Crónicas : 

Cortadores de Cana na Zona da Mata de Pernambuco e de todo o Brasil

 
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A noite cai, lentamente, não há vento, tudo que poderia denunciar a presença do vento, está parado, estático. como uma gravura em um quadro pendurado na parede.
A escuridão sobressaí, empurrando a luz do dia para trás dos morros em volta, que apontam seus cumes para o céu azul, a espera da estrelas que darão sua graça e beleza na escuridão da noite.
Esse céu azul que mescla-se de tons e nuances de azuis em várias tonalidades, conforme a luz se apresenta forte, ou diminuta.
Há uma aureola alaranjada, onde o sol vai se pondo.
Aos pés do morro, abrigados e protegidos pela elevação geográfica, existe uma plantação de cana, que encobre cada pedaço livre da terra, entranhada, em toda superfície, até, a fronteira de um rio, denominado de Rio Panelas, que corre livre em seu leito estreito e pedregoso, nesta parte não é navegável, jamais vi uma canoa ou um barco, mas, vi homens e meninos pescando, muitas vezes pequenos peixes que seria seu alimento no dia.
Essa plantação de cana é imensa, e alcança longa distância, além de onde á vista pode chegar.
Entre os canaviais existem pequenas casas onde vivem pessoas, embora tão próximas da plantação, há uma convivência tranquila entre homens e a plantação.
Na época da queimada da cana, para que, fique preparada para o corte pelos cortadores de cana,
é normal acordar no meio da noite e ouvir o crepitar do fogo queimando as palhas cortantes da cana, para que não corte os braços e pernas dos trabalhadores.
Ao amanhecer o fogo quase todo debelado, deixa uma fuligem nos móveis da casa, nos lençóis da cama, no chão do terreiro, e o telhado todo salpicado pela fuligem.
Antes do dia amanhecer dezenas de trabalhadores já estão a posto pra executarem seu trabalho.
Trazem no coração o desejo de trabalhar para dar o sustento de suas famílias, muitas delas numerosas,
seus instrumentos de trabalho são facões, bem afiados, sua alimentação vem em pequenas marmitas, apenas uma pequena porção de arroz, farinha de mandioca, pequenos pedaços de carne ou peixe frito, pescado no rio.
Esses trabalhadores vestem-se da cabeça aos pés, com camisas de mangas longas, calças compridas, e as mulheres usam lenços na cabeça e chapéu; os homens apenas chapéus. Nos pés alguns usam botinas muito gastas pelo uso, e outros adaptam sapatos como podem como medida de proteção.
Iniciam seus trabalhos cortando a cana e a arrumando em pequenos feixes, amontoando-as a um canto para o transportes nos lombos de burros e jumentos. Esses feixes de cana são pesados e apontados para que seja adicionados à tarefa do dia, para efeito de pagamento.
Trabalhadores que labutam antes do sol despontar no horizonte e só deixam o trabalho quando o sol se põe.
Na queimada durante à noite pequenos bichos inerentes da região, pequenos roedores, insetos e serpentes fogem do fogo como podem, tentam se abrigar em outras vizinhanças. embora muitos sejam encontrados carbonizados, ninhos de passarinhos, que fazem próximos dos barrancos são afugentados pelo calor.
Como espectadora anônima desse desenrolar por alguns anos, vi o clarão que o fogo deixa na noite escura, ouvi o crepitar do fogo, a poucos metros de meu lar, vi as fagulhas precipitarem-se conforme o vento batia. E com o tempo essa rotina pra minha família era apenas uma ação normal.
A Claridade do fogo, chama a atenção do povoado que adormecido e acostumado é testemunhado apenas por poucas pessoas que insones e pelo calor permanecem, nas calçadas, algumas semi adormecidas, outras apenas observando a noite.
No canavial apenas o céu é testemunha da queimada, que reduzem as palhas que revestem as canas serem dizimadas pelo fogo.
Essa é a rotina na vida de trabalhadores, cortadores de cana que levam suas vidas incógnitas ano após ano, muitos deles deixando suas saúdes, serem dizimadas como o fogo dizima o solo.
E ao menos que uma poetiza anônima,faça menção dos mesmos, com suas recordações de um passado distante pra ele, ele ainda é muito atual para milhares de trabalhadores nos canaviais do Brasil. Com empregadores que muito ganham, cultivadores de cana de açúcar, senhores de engenho, pagando parcos salários a trabalhadores que desde muito séculos passados fazem a riqueza do Brasil.
A menos que algum poeta, fale de seus feitos, os cortadores de cana do Brasil serão sempre usados em benefício próprio de outrem, não deles mesmos.
Deixo aqui, minha grande admiração por esses homens e mulheres que apesar de um trabalho tão duro, são homens e mulheres que merecem meu respeito e minha admiração.

Fadinha de Luz


Maria de Fatima Melo (Fadinha de Luz)

 
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MariadeFatima
 
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