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Uma utopia de um ser que se ama

 
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Dedos reclinados sobre a pele dos meus ombros, aqueles que pressionavam levemente o aroma transcendente que tanto emanava. Uma lágrima, aquela que cai sobre o meu rosto e me deixa engolir a alma por mais uns momentos enquanto te ouço a cantar a minha canção de ninar. Tua voz cada vez mais entoa minhas lágrimas que tenta espantar, consigo estremecer…consigo gritar por dentro sem emitir qualquer som e ainda assim te ouço…a tua voz que me embala para que eu durma, para que eu me vá para longe e te deixe aqui, junto a meu corpo morto.
Para onde levarias meu coração quando minha alma se fosse? Talvez me deixarias cadáver a defecar enquanto tuas gargalhadas ecoavam por uma outra vida que não a nossa. Meus lábios se moveram sem que eu soubesse e as palavras fluíram como se nunca tivesse falado na vida. Me abraçaste apertado, mesmo quando eu tentava afastar-te de mim, tu me abraçaste cada vez mais apertado. Meus punhos compunham ritmadamente uma nova sinfonia pelo teu corpo, mas não te importavas que eu te magoasse, nem sabias ao certo que dores eram essas que deverias sentir porque - naquele momento - estavas a sentir a minha dor e não a tua.
Minha voz falhou novamente por dentre soluções que a pouca respiração me dava. Teus dedos roçavam minhas costas em tons circulares, em tons de amor. E eu pensava que a loucura pudesse ser esta, enquanto nos enlaçávamos como todas as outras vezes, quando me dizias que tudo seria perfeito desde que eu me agarrasse à transcendência do meu peito. Porque eu era bem mais do que aquilo que sentia, bem mais do que qualquer coisa que pensasse. Eu era aquele teu botão de rosa que desejarias que nunca murchasse. Por isso me regavas a cada dia, beijando-me, embalando-me para que o meu sorriso se tornasse latente a cada segundo que respirasse.
Ainda me lembro de ontem, em que tuas mãos me puxaram para trás, quando me atirava de uma ponte imaginária que minha mente traçara. Ouvira teus gritos, a tua voz que me cantava para que eu voltasse a adormecer aquela dor que me impedia de transcender. E eu adormeci, embebi do nosso pequeno amor e deixei-me ser o que desejarias que fosse.
Não, mas hoje não… Tua voz não consegue mais adormecer-me, meus tons de escuridão crescem e pareço que te pouco mereço pelos segundos que passam. Apertaste-me ainda mais forte, repetindo vezes e vezes sem conta que o nosso amor era puro, era cristalino e que jamais nos abandonaria. E tu não mentiste, o que me fez sorrir ao mesmo tempo que fechava meus olhos e erguia meu rosto para o céu. Tu não me mentiste.
Abri minha imensidão e reclinei-me novamente sobre a realidade. Nas minhas mãos, nas nossas mãos, estávamos nós. Nossos sorrisos e nossa felicidade transparente. E eu sorri-te, senti-te novamente a abraçar-me, tal como naquela fotografia que tiramos momentos antes da morte te abraçar…deixando-me aqui.
Acompanhada pelo nosso amor. Arrebatada pela loucura.


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Autor
SofiaDuarte
 
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