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Agora vamos ali comer um pedaço de lombo

 
"Agora vamos ali comer um pedaço de lombo" - disse o meu pai enquanto ajeitava ao ombro, junto à capelinha de Santa Rita, a pasta de cabedal das ferramentas, dando por terminado o trabalho de restauro de uma mobília de sala na casa do juíz da Benfeita. E eu, na minha inocência, levei a frase à letra e julguei que se tratava da merenda muito embora já estivessemos na rua e começasse a escurecer...
O lombo começava logo a seguir à ponte que atravessava a ribeira e seguia para lá da fonte das moscas. Afinal era o caminho que nos esperava pela encosta acima até ao Pai das Donas * . A noite cerrada veio esperar-nos ao vale garantindo-nos a sua companhia por um bom pedaço de caminho ainda, feito às apalpadelas por entre raízes de castanheiros e caruma escorregadia. Já passava da hora habitual do jantar, quando, finalmente, nos sentámos à mesa da cozinha para matar a fome que aquele lombo nos tinha pregado entre as costelas e o estômago. Nada que um bom prato de sopa (a tranca da barriga) não curasse, logo seguido do das batatas com couves e sardinha frita, que, vá-se lá saber porquê, naquele dia me soube a carne fresca!


* - 1, 5km de caminho de cabras pelo meio do pinhal e do mato a separar as duas aldeias, o mesmo que viria a fazer todos os dias durante os anos em que frequentei a escola primária


*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

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cleo
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