Poemas -> Dedicatória : 

A mexicana (Juan Gelman)

 
Tags:  AjAraujo    poeta humanista  
 
Open in new window

outro dia começaram a sair pássaros de minhas mãos
se puseram a revoar sobre o bairro
o povo
saía para olhar
porque na verdade
revoavam que era uma beleza
aqui
ali
acolá

um
se meteu na casa de seu antonio e até no próprio seu antonio
bicou sua memória e levou um pedaço no bico
começaram a sair águas
fraldas
medos
pelo buraco em seu antonio
e ternuras velhíssimas que inundaram a rua

um vizinho
chamou os bombeiros que:
trouxeram uma manta para envolver seu antonio e levá-lo
mas o pássaro que entrou na juana
não queria sair
revoava por todo o corpo da juana
e assim a vimos
suspensa no ar
revoando que era uma beleza
passou pela janela do meu quarto gritando "ôa"

e caíam folhas dos seus olhos como quem prefere não chorar
"ôa", "ôa"
a juana foi entrando até o fundo do céu
ali
parecia um pássaro pequenininho
um ponto
começou a arder quando subiu a noite
todas as noites ela ardia aqui embaixo
pensando no fundo do céu ao qual um dia ia subir
pra me amar muito


LA MEXICANA

el otro día empezaron a salair pájaros de mis manos/
se pusieron a revoloter encima del barrio/la gente
salía a mirarlos/porque en verdad/revoloteaban que era un gusto/
para aquí/para allá/por acullá/uno
se metió en la casa de don antonio y hasta el propio don antonio/
le picoteó la memoria y se llevó un pedazo en el pico/
empezaran a salir aguas/pañales/miedos/por el agujero de don antonio/
y ternuras viejísimas que inundaron la calle/un vecino
llamó a los bomberos que:
trajeron una manta para envolver a don antonio y llevárselo/
pero el pájaro que se adentró en la juana
no quería salir/le revoluteaba todo el cuerpo a la juana/
y así la vimos/levantada en el aire/revoloteando que era un gusto/
pasó por la ventana de mi pieza gritando "huija"
y se le caían hojas de los ojos com quien prefiere no llorar/
"huija"/"huija"/la juana
se fue metiendo hasta el fondo del cielo/allí
parecía un pájaro chiquito/un punto/
empezó a arder cuando subió la noche/
todas las noches ella ardía aquí abajo/
pesnsando en el fondo del cielo al que un día iba a subir/
para quererme mucho/

Juan Gelman, poeta argentino (1930-2014).

Imagem: Detalhe do Mural "Mulheres Aztecas" de Regina Raúll.
 
Autor
AjAraujo
Autor
 
Texto
Data
Leituras
1118
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.