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O menino e as bolas de gude

 
Tags:  AjAraujo    o poeta humanista.  
 
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O menino cavava
os buracos
no barro molhado
pela chuva d'outono

O menino chamava
os amiguinhos
pro jogo à vera,
de bola de gude

As búlicas estavam
bem arredondadas
pronto: os palmos
foram bem tomados

Agora o esperado
"par ou ímpar"
e não vale mostrar
depois uma das mãos

O mata-mata então
começa na rua,
Luizinho era quem tinha
as bolas multicoloridas

O menino apontava
ele era mudo,
se ligava
a cada movimento

A ele ninguém ousava
enganar, opa!
um passo em falso,
a bola não caiu na búlica

Luizinho acusou o golpe
viu que uma das bolas
iria ser alvejada
pela mira certeira

Então, resolveu
recolher a sua bola
disse que ela havia
escapado dos dedos

O menino balançou
negativamente a cabeça
apontou o lugar do terreno
onde a bola deveria estar

A confusão foi tamanha
Os pais de Luizinho
disseram que pagaram
muito por aquelas bolas

E queriam o jogo
fosse só "à brinca"
mas o menino mudo
não aceitou mudar a regra

Era um menino maltrapilho
muito pobre,
mas infalível no jogo
da bola de gude.

Os outros garotos deram
a razão ao menino mudo
Mas, Luizinho não arredava
não queria por a pedra no jogo

Então, em meio a discussão
que já quase caminhava
para uma briga,
eis que chega uma senhora

Seus cabelos eram
bem alvos,
seus olhos eram
brilhantes, de cegar...

Ela entrou na roda
olhou para os garotos,
E dirigiu-se para
aquele menino mudo...

Tirou do bolso
de seu longo vestido
várias bolas coloridas
coisa mais linda do mundo

Os garotos extasiados
Os pais de Luizinho espantados
Quando ela conversa em gestos
Com o pobre menino mudo

A ele entrega as 12 bolas,
Ele logo coloca nos dois
bolsos de sua calça,
um estava furado, elas caíram

Luizinho e os outros garotos
Correram para pegar as bolas
O menino mudo ficou brabo
Começou a defender, a retomar

Cada bola que os garotos
tomavam virava barro
e esfarelava nas mãos
para surpresa de todos

Então a senhora de
mãos delicadas e olhar de fada
agacha-se e acena a todos
para que sentem-se e se aquietem

Ela então abre as mãos
E como em um passe de mágica
Vão se enchendo todas as búlicas
com bolas coloridas

Ela pede para que cada um
tente com sua própria bola de gude
tirar cada bola da búlica,
aquelas que conseguir serão suas

E aí, um a um, os garotos
vão tentando, de forma limpa
e divertida, ganhar as bolas
que aquela estranha senhora trouxe.

Os pais de Luizinho
o menino que tinha de tudo,
mas não sabia jogar bola de gude
continuavam intrigados, observando.

Enquanto isso, todos os meninos
começavam a aprender com aquele
humilde menino surdo a jogar limpo
e a ver a destreza e seriedade

Que aquele menino
- que nunca perguntaram o nome -
e que chamavam de "mudinho"
e que sempre vinha brincar com eles.

A mãe de Luizinho
havia feito vários
pingos de chuva
e pão de mel.

Então, após uma troca
de olhares com a alva senhora
resolveram buscar o lanche
e dividir com toda a criançada.

Porém, ao oferecerem
um pingo de chuva
para aquela estranha senhora
a mesma sorriu e agradeceu

E pela primeira vez,
dirigiu-lhes a palavra,
perguntando se acreditavam
em Deus?

Os pais de Luizinho
- Onofre e Vinólia -
acenaram que sim, eram católicos
e iam a missa todo domingo.

A jovem senhora
então disse-lhes
que haviam testemunhado
a generosidade de Deus

Ela disse-lhes
que era uma missionária
Em seguida, tomou
as mãos do menino mudo

Enquanto ele recolhia
as bolas de gude dele
Luizinho se aproximou
em lágrimas e beijou suas mãos

E pediu que ela esperasse
E ao retornar trouxe
seu par de tênis e
uma jaqueta para o menino mudo.

A jovem senhora deixou-se
invadir por grande emoção
aplaudiu a atitude de Luizinho
e despediu-se de todos.

Ficaram olhando perplexos
E comovidos os garotos,
O menino mudo e a senhora alva
Caminhando até que...

Uma luz surgiu,
repentinamente,
a ponto de quase cegar,
e nunca mais viram o menino

Quem seria aquela senhora
de vestes alvas e íris celeste?
Quem seria aquele menino
maltrapilho que vinha brincar com eles?

Até hoje cada um
faz as suas conjecturas,
jogam bola de gude,
sempre à espera do menino mudo.

Nunca mais fizeram
pouco caso
das crianças pobres
e se engajaram em bazares.

Os pais de Luizinho
adotaram um menino pobre
como irmão que ele não tinha
para aprender a dividir suas coisas.

E assim foram passando
os anos, todos crescendo,
ficaram rapazes,
e foram para a cidade estudar

Um dia, Luizinho
foi vítima de um assalto,
o bandido ia tirar-lhe a vida,
apontara o revólver em sua direção,

Os colegas de Luizinho
estavam próximos,
entraram em pânico,
viam a vida do amigo por um triz.

Quando de repente,
surge um menino e uma senhora alva
que se interpõem entre
o assaltante e Luizinho.

O assaltante começa a tremer
deixa a arma cair, enquanto isso
Luizinho atônito nem percebe quem
acabara de interceder por sua vida.

Assim como da outra vez,
no jogo de bola de gude,
A senhora alva e o menino mudo
Entraram e saíram de cena...

Os amigos de Luizinho
Após prestar-lhe o socorro,
Falaram da cena, que ele havia sido
salvo pela missionária e pelo menino.

Mas quem seria aquela
jovem senhora de vestes alvas?
Quem seria aquele menino
que ela conduzia?

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 24-3-14.
 
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AjAraujo
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