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O cachorro (Ivan Turguenev)

 
Tags:  AjAraujo    poeta humanista  
 
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Nós dois no quarto: meu cachorro e eu. Lá fora, a tempestade uiva, desenfreada, assustadora.

O cachorro está sentado à minha frente -e me olha direto nos olhos. Eu também olho para os olhos dele.

Parece que quer me dizer alguma coisa. É mudo, sem fala, nem entende a si mesmo -mas eu o entendo.

Entendo que neste instante, nele e em mim, vive o mesmo sentimento e entre nós não existe a menor diferença.

Somos idênticos; em cada um, arde e brilha a mesma chama, pequena e trêmula.

A morte virá voando, vai abanar sobre essa chama suas asas frias e largas...

E fim! Depois, quem poderá distinguir que chama ardeu em cada um de nós? Não! Não são um animal e um homem que se olham...

São dois pares de olhos idênticos, concentrados um no outro. E em cada par de olhos, no animal e no homem, a mesma vida assustada tenta se agarrar no outro.

Ivan Turgueniev (1818-1883), dramaturgo e poeta russo. Texto traduzido por Rubens Figueiredo.
 
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AjAraujo
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