Poemas : 

QUADRAS DE DESABAFO

 
QUADRAS DE DESABAFO

A admirável quinta do Al Mateis
Cada vez está mais povoada
De animais lindos e dóceis
Que fazem as delícias da coutada.

A “sonsita” que canta mal, mas encanta
Com a sua peculiar maneira de palrar
Sempre pronta p’ra pintar a manta
E a ideia de grande mandona passar.

O admirável e ímpar “jupi gorducho”
Sempre a correr, sempre a olhar
É muito útil o seu grande bucho
Para as novidades ao dono levar.

Quem não conhece o “lumento”
Sempre com ar muito tarefeiro
É certamente o de maior talento
Na arte de chibar para o quinteiro.

Depois há o “cachorro chifrudo”
Sempre a andar, sempre a correr
Na ânsia de conseguir fazer tudo
E as graças do dono vir a ter.

Como é gira a “gazela saltitante”,
Sempre tirana, sempre a rosnar…
Procura com sonsice preocupante
Pisar, tiranizar, humilhar, triunfar…

O “carneiro virado” lá vai andando
Como os outros no seu vaivém
Canta o fado, dança o fandango
E o vira do quinteiro, como convém.

O “falcão aluado” faz o seu voo rasante
Sempre pronto para a sua vítima bicar,
Com pose hilariante, faz ar de importante
Para a assembleia nele reparar e admirar.

É bonito de ver o “pavão vaidoso” a arfar
Convencido da sua arte e do seu saber
Pondo-se em frente duma tela a mostrar
O que à custa de alguém conseguiu ter.

Quando a relva fica verdinha
É bonito ver os carneirinhos
A rebolar na erva fofinha
Alegres e muito contentinhos.

Mas não há bela sem senão
E eis que aparece o quinteiro
Que vê a sua erva de estimação
Estragada pelos filhos do carneiro.

Ruge, rosna, late, ladra, grita…
Com todos lá do seu poleiro
E o grupo de carneirinhos aceita
Sem reclamar a fúria do quinteiro.

Não importa o que somos,
Se quinteiros, se cordeiros.
Sabe-se que, juntando os gomos
Das laranjas, faz-se o inteiro.

Há exemplos de amizade
Entre animais ditos inimigos
Pois é… o quinteiro na sua vaidade
Não entende, perde os amigos.

E um dia, admirável quinteiro,
Quando desceres do teu pedestal
E enfrentares o real, o verdadeiro,
Verás quão triste é ser irracional.

Não existe melhor bem que a amizade
Na efemeridade desta vida que corre,
Onde a lembrança da solidariedade
É o único bem que não morre.

Assim, senhor quinteiro
Acredite, se o quiser,
Um dia senhor quinteiro
Será como mais um qualquer.

E os dóceis carneirinhos libertos
Dos pavões, cachorros, lumentos…
Apenas lembrarão o quão espertos
Foram em não entrar em lamentos! [/b]
[/b]

Desabafar liberta a mente...
 
Autor
jmpsc
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