Poemas : 

A LÁGRIMA QUE SE HUMILHA

 
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Oh, meu velho poema!
Eu te sigo pela multidão deprimida,
por teus leitores e desleitores,
por todas as causas dos que te recusam.
Eu te sigo e te renovo em meu peito,
como a flor que deixou cinza a retina,
como o aviador que a fumaça afina.
Saístes de mim jovem e amante
e agora poucos querem o teu fôlego,
a tua mansidão de alquimista com febre,
a solidão que deixas nas saudades alheias.
Descansas na noite negra dos amantes infelizes,
meu velho poema! Eu vi uma batalha no céu.
Destruíram a luz do luar e a face de tua estrela,
ruíram risos e mais risos sobre nossas gargantas.
Meu poema de todas as estações,
por que nessa hora vais morrendo?
antes do fim da estrada, antes dos novos versos,
das palavras que o vento ainda não trouxe.
Eu te sigo, te sinto e vou em frente beijando-te as mãos,
não quero que morras sem percorrer os lábios de uma criança.
Eu sei, você nunca foi um ousado, nem primoroso,
nunca apreciou o ritmo, nem a música irmã do segredo.
Sua vontade é o riso, a criança, a fantasia e todas as ilhas.
Meu poema, você não desejou ser um corcel,
um anjo sem cor, um cais amargurado, um pedestal
Eu sempre te comparo ao meu candeeiro de acender flor.
É um tão velho candeeiro do tempo dos meus avós,
ele acalora devagar e sabe o que ilumina,
tem o dom de fazer minha alma chorar.
Passam histórias antigas agasalhadas nos ventos,
a lua sem rosto flutua sobre as árvores,
é mais uma noite para o meu velho poema.
Numa pequena mesa converso com Álvaro de Campos,
tomamos algumas gotas de rivotril
e deixamos nossos delírios apagarem as luzes.
Eu sonho com meu amor vestindo um furacão branco
e seu rosto pálido no altar do santuário.
Ouço os anciãos chorando por tudo que perdi.
Oh, meu poema, parte desse amor me parte
outra, me faz respirar.
Parte de você parte,
outra se perde em lágrimas.
Eu sento na calçada ao lado de um desconhecido,
lamento a violência dos meus sonhos.
Se você deseja vê-los, atravesse o rio selvagem
desse meu poema que mora à sombra da dor
Tente agarrá-los na fumaça do candeeiro.
Poucas pessoas leem poetas antigos,
poucos têm o coração bom.
Alguém ouve o poeta batendo à porta?
Ei, ouça o meu poema, o meu velho poema.
Aqui fora, sinta o perfume das rimas,
me acompanhe, ponha ritmo e fogo em nossas memórias.
Meu poema sem asas é o sentido invisível dos meus dias.


Edmir Carvalho Bezerra
 
Autor
veropoema
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