Prosas Poéticas : 

COLA DE SAPATEIRO

 
Sou como os sapatos clarividentes, que perambulam pelas velhas ruas.
Nuamente despidos dos nojos das gentes; pisam em escarros e peles sujas.
E condensam o cheiro dos sentidos, captando as paredes das poeiras que se formam. E que se deformam na omissão...
Meu formato é bem definido, brilho como o pólen na flor. Meu cheiro exala odores distintos, ora com beleza, ora desamor.
E dentro dos meus pés, viajo...como a ferida borbulhante.
Como o sono dos bebês que doravante, se escusam de sofrer dores fingidas.
Minhas dores são contínuas e temidas, pois tenho dentro de mim um caminhar vazio.
Pra chutar o balde e lamber o chão; das aparências inaladas. Me condenso no mel da eficácia, e jazigos me esperam ao sul. De serafins e urubus, que se apoderam de mim. Uma vez eu digo sim, e noutras perdão.
Meus pés transpassam a multidão, a ponto de nem mesmo ter minhas digitais na alma. Perdi-me de mim, da minha calma, quando o teu cheiro incorporou.







"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende." (Guimarães Rosa)

 
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Ledalge
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/01/2008 09:22  Atualizado: 28/01/2008 09:22
 Re: COLA DE SAPATEIRO
Realismo cortante! Apenas escreve assim quem tem força para tanto. E poesia suficiente para humanizar as situações mais abjectas. Nunca será o teu espírito a ser devorado pelos urubus porque escreves assim. O teu corpo como o de toda agente vai desfazer-se em pó na altura própria.
Parabéns
h@p