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Quem sou eu? [vulgo poema "bodarrada"] (Luiz Gama)

 
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“[...] Eu bem sei que sou qual grilo
De maçante e mau estilo;
E que os homens poderosos
Desta arenga receosos

Hão de chamar-me — tarelo,
Bode, negro, Mongibelo;
Porém eu que não me abalo,
Vou tangendo o meu badalo

Com repique impertinente,
Pondo a trote muita gente.
Se negro sou, ou sou bode
Pouco importa. O que isto pode?

Bodes há de toda a casta,
Pois que a espécie é muito vasta.
Há cinzentos, há rajados,
Baios, pampas e malhados,

Bodes negros, bodes brancos,
E, sejamos todos francos,
Uns plebeus, e outros nobres,
Bodes ricos, bodes pobres,

Bodes sábios, importantes,
E também alguns tratantes
Aqui, nesta boa terra
Marram todos, tudo berra;

Nobres Condes e Duquesas,
Ricas Damas e Marquesas,
Deputados, senadores,
Gentis-homens, veadores;

Belas Damas emproadas,
De nobreza empantufadas;
Repimpados principotes,
Orgulhosos fidalgotes,
Frades, Bispos, Cardeais,

Fanfarrões imperiais,
Gentes pobres, nobres gentes
Em todos há meus parentes.

Entre a brava militança
Fulge e brilha alta bodança;
Guardas, Cabos, Furriéis,
Brigadeiros, Coronéis,

Destemidos Marechais,
Rutilantes Generais,
Capitães-de-mar-e-guerra,
— Tudo marra, tudo berra —

Na suprema eternidade,
Onde habita a Divindade,
Bodes há santificados,
Que por nós são adorados.

Entre o coro dos Anjinhos
Também há muitos bodinhos... [...]”

Luiz Gama, poeta e trovador abolicionista (1830-1882).

Ler mais: A poesia libertária de Luiz Gama http://meuartigo.brasilescola.com/lit ... -libertaria-luiz-gama.htm
 
Autor
AjAraujo
Autor
 
Texto
Data
Leituras
1895
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