Contos -> Romance : 

Sofia e os grilhões que forjavam escravos.

 
Tags:  desastre    fatos recentes    terras baixas  
 




Sofia sopesava os fatos recentes e via em toda parte indícios de conspiração.
“ Acho que na verdade alguém disse alguma coisa nesse sentido. Mas depois daquele desastre, o que mais vai acontecer? “, disse em voz altissonante, para que todos pudessem ouvir.
Porém, naquele momento o que importava era que quem mora em terras baixas deve saber como atravessar um pântano sem maiores percalços. Orgulhar-se quando o encantador de serpentes perceber que faltavam pregos na cama, dando-se conta também que dois dos homens observavam todos movimentos da naja. É que a remissão veio tarde demais. Talvez pudesse comparar a um circo, perante plateia lotada, árdua labuta desde que o sol nasce. Sem tirar os olhos da serpente, murmurou:
“ - Neste tabuleiro da minha vida, sou a rainha branca suspirando pelo peão. Entre manifestos medo e tristeza, é com extrema ansiedade que aguardo chegar o dia marcado com círculo vermelho no calendário. “
Felizmente todos foram claros em suas assertivas. Tanto o padre quanto o trapezista fizeram questão de avaliar se realmente o que era de César fora mesmo dado a César, sem que houvesse eventual descambo. Poderia ser a visão de um rosto benevolente, mas não ali na arrebentação, onde as ondas tem espumas. Deixar-se absorta, apenas silenciosamente sorrir, agora que olhando para o picadeiro coberto de serragem azul, não conseguia lembrar da cor dos olhos. Tinha certeza do que dizia, mesmo que fosse verdade que do telhado poderia ver as mais brilhantes estrelas do céu. Não ouviu nenhuma pergunta, mas isso não a impediu de cravar a resposta:
“ - Sei que não sou eterna. Posso morrer a qualquer momento. Mesmo assim, espere por mim na quarta feira. Passarei pelo arqueoduto às quatro em ponto. E despediu-se sem esclarecer se estaria sobre o arqueoduto ou sob ele.
Em questões semelhantes, sempre era o mais aconselhável manter silêncio de pedra. Ali todo mundo já sabia de antemão o quanto ridículas eram aquelas perguntas direcionadas ao postulante. Parecia invisível, mas olhava ao redor como se seiscentos diabos a contemplassem. Sabia que era necessário manter o segredo a qualquer custo, manter a conexão ativa. Mas a corrida vai começar, isso ela sabia. Não moveu a pedra branca sequer para defender a rainha diante do que já nascera com o sinal.
Jubilosa e ousada por demais insistia em olhar sempre para a direção que os bicos dos seios apontavam. Aos trinta anos ainda podia olhar para frente, ligeiramente acima da horizontal. O fluxo de lava fatalmente atingiria o mar, solidificando-se a aumentando a superfície da ilha comprovando que o rei tem um sinal na testa. Que todo mundo que não é o exato indivíduo destinado jamais será o depositário das virtudes inexatas, desde as alturas das montanhas até a espuma branca das ondas morrendo mansamente na areia branca. Ali, naquele momento, verdes eram aqueles jardins. Podiam ser vistos do alto dos morros que circundavam a cidadela. Enxugando com lencinho de cambraia uma teimosa lágrima que insistia em rolar, quase em tom de choro foi que arrematou:
“ - É a mais pura das verdades. Conhecemos todos que podem ter sido escravos sem termos visto os grilhões que os forjavam. O que não conhecemos a fundo, é o caráter de cada um dos que foram heróis.”





 
Autor
FilamposKanoziro
 
Texto
Data
Leituras
942
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
5 pontos
1
2
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 31/10/2014 02:44  Atualizado: 31/10/2014 02:44
 Re: Sofia e os grilhões que forjavam escravos.
«O que não conhecemos a fundo, é o caráter de cada um dos que foram heróis.»

Parece que ela sabia o que dizia.