Poemas : 

Existencialidade imediata

 
.

O futuro bate à porta
como se para me assombrar.
Torna a trilha do passado torta
e quer tomar da memória o lugar.

Sinto a ansiedade
dos dedos magros do futuro,
o eu que serei na cidade
ou no campo, mais maduro.

Olho no olho mágico,
o futuro veste morte.
Percebo seu gesto trágico
traçando a minha sorte.

Olho atrás, o passado mirra.
São neblinas de outros tempos.
As culpas não têm mais rimas,
o verso do instante cresce lento.

Fecho os olhos e encho o pulmão,
é na respiração que eu sei do agora.
O passado não me alcança na lembrança,
o futuro é do lado de fora.

Fico dentro.
Fico centro.
Este é o meu lugar.
Fico respirando o vento
do que chamo instante já.

.

 
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thiagodebarros
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/12/2014 18:58  Atualizado: 17/12/2014 18:58
 Re: Existencialidade imediata

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 21/08/2016 08:14  Atualizado: 21/08/2016 08:17
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: Existencialidade imediata
O futuro assombra-nos quando “bate à porta”, tornando o passado algo torto e tosco, sem qualquer significado verdadeiramente importante… ao mesmo tempo que tem como pretensão tornar o presente memória, aumentando-nos a bagagem que já carregamos.
O futuro traz-nos essa “ansiedade” que os seus “dedos magros” – cada vez mais magros com o tempo – nos devolvem. Seremos mais maduros nesse tempo por vir, mas o futuro também se “veste” de “morte” e, antevendo o “seu gesto trágico”, assombramo-nos perante a nossa “sorte” traçada de antemão.

No passado tudo “mirra”… “são neblinas de outros tempos” que nele habitam; onde “as culpas não têm mais rimas” e sentimos-lhe o peso.

No aqui e agora, “o verso do instante cresce lento” e dissolve-se rápido, apertado entre estes dois tempos…
Cerramos “os olhos”, enchemos “o pulmão” e sentimo-nos presentes enquanto escutamos a nossa “respiração”. Neste momento em que respiramos tão pausadamente, o passado não nos alcança de lembranças e o futuro “é do lado de fora”.


Demoremo-nos aqui:
dentro do tempo,
no “centro" dele,
no agora que é o nosso lugar

sentindo esse vento no “instante já” – que originará outro “instante já” e outro “instante já” e outro “instante já”, perpetuamente.