Poemas : 

GERAÇÕES - PARTE III - CAP. II

 
GERAÇÕES
PARTE III
CAPÍTULO II
Demetrius Antunes pediu com urgência ao setor de contabilidade a posição de todas as empresas ligadas ao sistema da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes. Era necessário percorrer com os olhos todas as contas, detalhe por detalhe. Os referidos pedidos chegaram à sua mesa de trabalho. Demetrius coçava o queixo... não era crível o que estava a contemplar. Nunca, durante todos esses anos de funcionamento, as contas apresentaram sinais vermelhos... Pelo menos metade dos afiliados se encontravam neste nível. Marcou, então, uma reunião urgente com os dirigentes que respondiam pelas respectivas empresas, pois, era mais do que urgente combater o mal pela raiz. O encontro foi acirrado e culminou com o afastamento imediato de alguns diretores, suspeitos que estavam de envolvimentos em fraudes e em negócios ilícitos em nome da Fundação. Era deveras preocupante a situação. Marcou uma reunião especial com o departamento jurídico, tinha em mente a reformulação dos Estatutos e desejava estudar com os advogados todos os pontos e ver onde poderia mexer e quais as linhas imexíveis. Ou fazia algumas mudanças, ou poderia levar ao colapso total um empreendimento histórico e que era orgulho da família e do povo.
Foi exatamente durante este espaço de tempo que, mais uma vez, os americanos voltaram a insistir pela compra do controle acionário do Grupo. Não havia com quem dialogar, seus assessores pareciam incompetentes, porque não eram capazes de opinar corretamente, sempre falavam que falavam e nada diziam que se aproveitasse. Justiça seja feita, a bem da verdade o próprio Demetrius não carregava em seu bojo de competência o sangue dos seus antepassados em relação a atos administrativos. Era esforçado, porém carente de uma inteligência que a muitos enganou... Demonstrou possuir em sua adolescência um perfil capaz de administrar com o tino dos antecessores que brilharam na cadeira da Presidência...Ledo engano, fogo de palha...Agora corria contra o tempo, os traços vermelhos que encontrou nas contas tinham de desaparecer e lucros saudáveis voltarem a ser a religião da Fundação.
Recebeu os americanos em seus escritórios. Para não ser um anfitrião solitário, convocou o chefe do jurídico para recepcionar os gringos junto consigo.
- Senhores, estamos abertos a negociações. No momento, passamos por um amplo estudo de reforma dos Estatutos e verei em que pontos dos mesmos poderemos mexer. Afianço-lhes, antecipadamente, que passar o controle acionário da Fundação ainda é coisa precoce, contudo pode-
mos conversar e abrir espaço para uma injeção de recursos...
- Estamos dispostos a investir 8 bilhões de dólares pela compra definitiva do conglomerado. Não vamos injetar recursos parciais, isto está fora de cogitações. – Explicou Gregory Tommy, o chefe da delegação que ali se encontrava.
- Com certeza é baita proposta... Todavia, peço mais alguns dias, até que tenhamos uma posição consolidada do quadro em que nos encontramos.- Pediu Demetrius.
- Trinta dias e nem uma hora a mais. – Concluiu Gregory.
Os americanos se retiraram. Demetrius e o chefe do departamento jurídico prosseguiram reunidos, haveriam de encontrar, dentro dos próprios Estatutos, uma mágica que os livrasse de negociar com os americanos da maneira como eles propunham.
Alguns dias depois, a Polícia Federal conseguiu desarticular uma quadrilha especializada em lavagem de dinheiro. Entre os envolvidos se encontravam 10 ex-diretores de empresas conglemeradas à Fundação e ficou provado um grande escândalo: tais diretores receberam altíssimas propinas para fraudarem as empresas as quais dirigiam... Um negócio sujo e ilícito. Não se pôde colher maiores detalhes: os referidos envolvidos foram misteriosa e sumariamente eliminados em pleno cárcere. A coisa parecia mais grave do que aparentava ser.
Enquanto isso, totalmente alheios aos problemas em que estava envolvido o grande orgulho da família Antunes, Cláudio e Miguel se fartavam na troca de carícias com Ricardo Leitwig. Formou-se, entre eles, um triângulo amoroso. Ambos os gêmeos estavam caídos de amores pelo garoto e, Leitwig, como não sabia diferenciar quem era quem, ora estava com Miguel, ora estava com Cláudio. Assim viveram muitos dos seus dias e, quanto mais o tempo avançava, mais apaixonados ficavam.
Demetrius conseguiu mexer em alguns pontos dos Estatutos e fez bruscas mudanças onde foi possível. Por exemplo, estavam abertas as possibilidades para qualquer funcionário ou pessoa indicada pelos Antunes para a ocupação da Presidência do sistema. Conseguiu, igualmente, mudar uma norma, que proibia injeção de capital estranho aos interesses da Fundação. Com a mudança, tanto capital nacional como estrangeiro eram bem-vindos desde que comprovadamente
necessários à saúde financeira e sobrevivência dos negócios.
Estava satisfeito. Os trinta dias estipulados por Gregory Tommy se esgotaram e, mais uma vez, Demetrius recebe a delegação em seus escritórios. Explicou aos gringos as mudanças realizadas e abriu imenso espaço para que os interessados na aquisição do controle acionário da Fundação pudessem investir livremente.
- Temos em nome do nosso Governo a última de todas as propostas que podemos fazer. Não nos interessa investimentos parciais, queremos o bruto do negócio – disse Gregory – pela última vez fazemos uma proposta: dez bilhões de dólares em espécie nas contas particulares daqueles que detêm o controle acionário. Mais nada faremos. Se nos der uma resposta negativa, tenha certeza, mais nunca receberá aqui em seus escritórios qualquer delegação americana interessada no mesmo assunto.
- E vocês farão este depósito de imediato? – Quis saber Demetrius.
- Sim. Sou o responsável pela transação. Sou secretário do Tesouro do meu país e, no mesmo instante em que assinar a venda do controle acionário, farei a transferência do numerário para sua conta particular.
Demetrius pediu uma hora para decidir. Teria uma conversa privada com seu chefe do departamento jurídico e no tempo previsto daria uma resposta definitiva.
- Veja, Dr. Agnaldo, sabemos que a saúde da Fundação está em derrocada. Mesmo com as mudanças que providenciamos, os efeitos são a longo prazo. Eu estou em cima do muro. - Falou Demetrius.
- Eu não pensaria duas vezes, Demetrius Antunes. Não importa quais sejam os verdadeiros interesses destes gringos, importa ser consciente e saber que, caso jogue fora, mais uma vez, a oportunidade, muito brevemente poderá estar amargando uma falência total... aí, nem Fundação, nem dez bilhões de dólares... – Emitiu Dr. Agnaldo seu parecer.
Mesmo diante de tantas evidências, Demetrius Antunes não tinha em seu íntimo uma decisão formalizada. Sabia que, com dez bilhões de dólares, poderia iniciar tudo outra vez e edificar um novo império, contudo vinha à sua lembranças a luta dos antepassados em preservar algo que fora construído com tanto sacrifício e amor. Estava desesperado... Mordia os lábios, roía as unhas... Pensou também: Dr. Agnaldo tinha plena razão: ou vendia e pegava na “grana preta” ou num espaço de tempo estaria sem nada... sem o dinheiro, sem a Fundação...
Pediu que os gringos retornassem. Havia, finalmente, chegado a um consenso consigo mesmo e que Deus abençoasse sua decisão, pois, dependia apenas de si decidir e assinar...
- Amanhã, às dez horas da manhã, no cartório de ofícios responsável, estaremos concluindo esta negociação., - Disse Demetrius.
- Meus parabéns, sr. Demetrius, sua decisão é inteligente... – Aplaudiu e o abraçou, Gregory.
AMANHÃ - CAPÍTULO III DESTA PARTE III - CAPÍTULO FINAL

 
Autor
imelo10
Autor
 
Texto
Data
Leituras
541
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
10 pontos
0
1
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.