Poemas -> Surrealistas : 

... sem horas

 
Cruzar o silêncio das serras em papoilas de vento
rubro.
Afastar gelosias, cortinas,
em cotovelos súbitos, nos colmes acidulados
d’ álgidas ventanias...

Chegar a ti sem horas:
descalça,
desnuda, desarmada,
por entre a claridade baça da manhã,
solta dum céu plúmbeo, tão estanhado…

[…que existe uma unicidade na trajectória do tempo, meu amado…
Uma janela aberta ao rio,
- uma vela, um barco -,
nas palavras indizíveis,
inextricáveis, e na singularidade d’ espaços parcos].

Abrir lentamente
dedos,
lábios,
braços,
cerrar olhos em veludo pestanudo de pálpebras
- credulidade suspensa na imobilidade das coisas-,
e, tombar, serena, no íntimo do teu regaço.

Tomar-te,
no gemido d’águas d’alcatruzes,
ouvindo ninfas - deusas das águas -, no carrilhão de noras
e ver luzes, sorrindo, na antemanhã líquida dos dias turvos.


MT.ATENÇÃO:CÓPIAS TOTAIS OU PARCIAIS EM BLOGS OU AFINS SÓ C/AUTORIZAÇÃO EXPRESSA

 
Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 12/02/2008 12:33  Atualizado: 12/02/2008 12:33
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: ... sem horas
"ouvindo ninfas - deusas das águas -, no carrilhão de noras
e ver luzes, sorrindo, na antemanhã líquida dos dias turvos."
... e imaginar o teu sorriso lindo, ao descrever tamanha beleza por ti imaginada!

Beijo

Enviado por Tópico
*ci*
Publicado: 12/02/2008 13:05  Atualizado: 12/02/2008 13:05
Colaborador
Usuário desde: 28/02/2007
Localidade: Suiça
Mensagens: 689
 Re: ... sem horas
lindo...como sempre...:)

beijos da ci

Enviado por Tópico
Carla Ribeiro
Publicado: 12/02/2008 13:10  Atualizado: 12/02/2008 13:10
Super Participativo
Usuário desde: 04/06/2007
Localidade: Resende/Vila Real
Mensagens: 128
 Re: ... sem horas
Palavras de uma beleza devastadora... Quase parece que nos arrastam para dentro do poema... Fazem sentir...
Parabéns.

Enviado por Tópico
Liliana Jardim
Publicado: 12/02/2008 13:15  Atualizado: 12/02/2008 13:15
Usuário desde: 08/10/2007
Localidade: Caniço-Madeira
Mensagens: 4412
 Re: ... sem horas
....cerrar olhos em veludo pestanudo de pálpebras
- credulidade suspensa na imobilidade das coisas-,
e, tombar, serena, no íntimo do teu regaço...

Sem palavras, amiga
Soberbo POETISA

Enviado por Tópico
Zélia Nicolodi
Publicado: 12/02/2008 14:36  Atualizado: 12/02/2008 14:36
Colaborador
Usuário desde: 18/01/2008
Localidade: Curitiba - PR.
Mensagens: 983
 Re: ... sem horas
"...chegar a ti sem horas: descalça, desnuda, desarmada..." Quanta entrega nessa imagem que você criou!
Seus poemas são sempre um aprendizado, caríssima poetisa...Beijos de carinho e uma tarde de luz!

Enviado por Tópico
Ledalge
Publicado: 12/02/2008 15:54  Atualizado: 12/02/2008 15:54
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Usuário desde: 24/07/2007
Localidade: BRASIL
Mensagens: 6868
 Re: ... sem horas
Mel, o que dizer de ti, se és a imagem da própria poesia? Na vida, aprendi a admirar amplamente uma deusa lusitana: Florbela Espanca, e agora na contemporaneidade, encontro uma poetisa que fará história. Já és a minha eleita como melhor poetisa contemporânea. Um beijo, Núria.

Enviado por Tópico
Mel de Carvalho
Publicado: 12/02/2008 22:14  Atualizado: 12/02/2008 22:14
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Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa/Peniche
Mensagens: 1562
 Re: ... sem horas (para tds os amigos que leram e/ou comentaram PS: p/ Núria)
A cada um de vós agradeço muito reconhecida o lenitivo que recebo das vossas palavras.

PS: A Ti, querida Núria, em especial, te digo que as tuas palavras - manifestamente generosas, extremamente generosas -, me deixaram com duas lágrimas nos olhos. Não, minha querida Núria, estou a séculos da poetisa que referes e que tanto admiro também. De qualquer forma, o teu comentário, gera em mim a necessidade de não defraudar o carinho que me concedes e tão somente tentar publicar com dignidade.
Obrigado Núria, do coração!
Beijo da Mel