Poemas : 

No abaeté tem uma lagoa escura arrodeada de areia branca

 
.

Quem me dera a quimera da areia
que quer ser pedra
mas também quer ser livre.

Deus me livre das pedras no caminho.
Que meu caminho fique firme
como pegada na areia
quando passar a água
da lagoa da vida.

Quem me dera
a transparência do vidro
pós areia
da junção
dos grãos,
dos fatos,
dos cacos,
pós de estrelas,
mimos,
miasmas,
cansaços.
o amálgama das minhas emoções
translúcidas
e loucas.

Quem me dera
o vidro do meu teto ser mais concreto
e que as pedras -
pré-areias -
precipitadas
das montanhas de pretensões alheias
não me atinjam
nem caiam no caminho

Que o caminho seja moinho
de bons ventos
e que eu possa fazer
bastante poeira ainda.

.

 
Autor
thiagodebarros
 
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Enviado por Tópico
FabianoReis
Publicado: 09/06/2015 20:01  Atualizado: 09/06/2015 20:01
Muito Participativo
Usuário desde: 05/04/2010
Localidade: Brasil/Pantanal/Campo Grande
Mensagens: 55
 Re: No abaeté tem uma lagoa escura arrodeada de areia branca
Olá!! gostei muito de "No abaeté tem uma lagoa escura arrodeada de areia branca", o nome também é ótimo e chama atenção. Estou certo que vai "fazer bastante poeira ainda".

Parabéns!

Fabiano

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 09/06/2015 20:54  Atualizado: 09/06/2015 20:54
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1913
 Re: No abaeté tem uma lagoa escura arrodeada de areia branca
Gostei. Mas como diria o meu querido Pessoa: Pedras no caminho? Guardo-as todas, um dia contruo um castelo...

Abraço.

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 14/08/2016 09:55  Atualizado: 14/08/2016 09:55
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: No abaeté tem uma lagoa escura arrodeada de areia branca
Ser leve e livre como a areia que possui a “quimera” de vir a ser “pedra” – algo com mais impacto e pegada que a primeira, demorando a descolar – sem que alguma vez a seja.

“Quem me dera a quimera da areia
que quer ser pedra
mas também quer ser livre.”


(destaco a construção da estrofe cheia de Qs que se assemelham a pequenos grãos de areia que, aqui acumulados, perfazem uma pedra-estrofe: “quem”, “quimera”, “que quer”, “quer”)

Fugindo às “pedras no caminho”, que nos fazem andar aos tropeções, o desejo do sujeito poético é que o “caminho fique firme/como pegada na areia/quando passar a água”, já que uma pegada na areia facilmente se apaga com a água que lhe passa por cima; sendo, portanto, um modo de ir andando sem grandes abalroamentos, por um caminho que não deixa marcas atrás de nós, evitando bagagens a mais.

Da areia faz-se o vidro, objecto transparente, juntando grãos – “pós de estrelas”.
É, também, possível imaginar uma ampulheta nesta terceira estrofe… ampulheta essa feita desse vidro que é agregação da areia… contendo, ironicamente, a matéria-prima que a originou. Vira-se a ampulheta e os grãos percorrem-na… suaves, breves, sem causar danos ou destroços… assim se quer um caminho: tão liberto, tão fluido, tão límpido que até o podemos antever olhando para o vidro que nos separa da areia que escorre.
E, sendo as areias metáforas de “emoções”, também elas seriam fluídas, libertas, sem entraves maiores, “translúcidas”… etéreas.

Fugir às pedras “das montanhas” que nos caem no caminho. Evitar-lhes a mossa, antever-lhes a direcção… porque importa que o “caminho seja moinho/de bons ventos” e que a “poeira” se faça, não os destroços.