Poemas : 

Balada do navegante – Final

 
"... lá, depois de mais um por de sol desfeito de chamas,
vêm ledas luzes bailarinas a multicolorir-me os olhos...”

----------------------------------------


- Balada do navegante – final -




Vejo-me meio à neblina, olhando ansioso o céu,
sempre me quedo meditativo nesses momentos;
percebo quanto assobia o vento, assoma cruel,
pode crispar o espelho cristalino com tormentos.
O anelo é navegar para casa, pétrea cidadela,
após amainar o azul alegre de uma jornada solar,
lá do quarto posso ver o amanhecer pela janela,
seguro entre livros e vasos da mesa de jantar.
Contemplo ali uma jarra com flores vermelhas,
na segurança do lar, longe de perigosas centelhas.

É que nos crepúsculos, os nevoeiros ocultam abrolhos,
lá, depois de mais um por de sol desfeito de chamas,
vêm ledas luzes bailarinas a multicolorir-me os olhos
são reais imãs de atitudes para desvendar tramas.
Quando a madrugada atira-me para outro pesadelo,
asfixia-me cruel, fazendo do mar de nuvens, um paul,
morrendo lentamente sem ter quem responda o apelo
aguardo que surja rósea a luz que se segue ao azul,
entre luzes vermelhas e verdes em crescente grado,
quadro esfuziantes mesmo no entardecer enfumaçado

Logo divago, vendo luz em feixes esparsos e embaçados,
vejo plácidas almas na nevoa cinza em queda nos abissais,
- imagino ser uma lanterna para as almas dos afogados;
lá no horizonte, o brilho do fogo é silencioso neste cais.
Porém, minha alma é simples, tenta planar na brisa amena,
sem ser prejudicada demais pelas intempéries das imagens,
no meu rosto já castigado pelo tempo, o olhar ainda acena,
enquanto febris na mente pululam os mesmos personagens,
sarcásticas, bailam e descansam no topo da pedra maldita,
cingindo a beira do outeiro infernal que inspirou Anita[Malfatti]*

Quando não vejo o perfil da luz na divisão do brilhante,
num festival de luzes que o amanhecer encerra, cintilante
o langor me transporta além da borda da terra num instante
para algum lugar longe... tão longe... um lugar tão hostil
de onde não posso mais ver ondas espirais no manso lago anil.






(*) Tela “Rochedos” de Anita Malfatti – Monhegan Island - Maine- USA 1915 –


24102015
--------------------------------------------------------------
©LuizMorais. Todos os direitos reservados ao autor. É vedada a copia, exibição, distribuição, criação de textos derivados contendo a ideia, bem como fazer uso comercial ou não desta obra, de partes dela ou da ideia contida, sem a devida permissão do autor.




" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."




 
Autor
LuizMorais
 
Texto
Data
Leituras
481
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.