Poemas -> Dedicatória : 

Areia de ampulheta da história

 
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Enquanto os cabelos
vão embranquecendo,
rareando e desnudando
a nossa fronte.

À nossa frente,
os olhos ainda vivos,
com ou sem catarata,
mirando o horizonte,

apreciando as imagens
registradas na memória,
instantâneos de tantas
passagens marcantes

ao longo dos anos,
doloridas ou coloridas,
mas, sobretudo, vividas
e vívidas no pensamento,

emoções da redescoberta
anos mais tarde lembradas
feliz reencontro de amigos
que o despertar da vida

neste espaço “Castelinho”
nos proporcionou rever,
Assim seguirão retidas
em arquivos preciosos,
de nossas memórias,
testemunhos, histórias,
que por aqui passamos
e aqui muito curtimos

brincadeiras, magias,
encantos de crianças
- Que fomos um dia,
tão travessas...

Mas, que ainda somos,
- No espírito juvenil -,
Das primeiras paixões,
aos namoros na escola,

decepções, alegrias,
fruto de experiências
secretas ou abertas,
afinal foram tantas,

que nem te conto,
nem me ousas contar,
talvez algumas fluam,
como gotas de orvalho

do sereno de inverno
nas sensíveis dormideiras
que cobriam como tapete
o caminho do valão

Assim é a vida!
Doce ou Amarga,
Antes febril, juvenil
Agora só calmaria...

Pois, penso que seja
melhor que essa areia
D’ampulheta do tempo
não corra assim tão célere,

como nesses tempos
e que possamos tocá-la,
como após aquelas chuvas
de verão, cheiro de terra,

lembram-se do saibro
ficava fino colorido
lavado no caminho
do bairro Querosene,

na curva próxima
ao colégio Castelinho,
era como tocar uma duna,
sem ter praia, só fantasia

Para que nós, personagens
desta saudosa história,
sigamos resgatando doces
momentos de outrora,

abrindo as gavetas
do tempo e encontrando
velhos álbuns de retratos
em preto e branco,

reencontrando em viagem
ao tempo da infância
com nós próprios, amigos,
e nossos entes queridos,

muitos que já tomaram
o vagão do trem infinito
rumando para a próxima
estação espiritual.

E assim, em analogia
com quadro de Van Gogh,
possamos ver a chegada
de nossos pais, da fábrica,

trazendo-nos guloseimas
para compensar o tempo
e demonstrar o quanto
nos amavam...

O amor é doce, pueril,
como a abelha silvestre
que beija a flor estival
que lhe oferece o néctar.


Enfim, de improviso,
deixo uma mensagem
para mais um dia
renascer de expectativas

e de ternas esperanças
por um mundo melhor,
onde quer que estejamos
nas cidades terrenas

ou nas moradas celestiais
Santanésia será sempre
um ponto de encontro
dos antigos moradores

Aqui ou Acolá,
pois em nossa pequena
e acolhedora cidade,
aprendemos que:

o caminhante só tem
a direção certa
de onde quer ir
e onde precisa chegar

Se a caminhada
se faz na trilha
deixada por aqueles
que antes desbravaram

e abriram os portais
- Nossas velhas porteiras –
para o verdadeiro sentido
da existência humana.

Viver é servir,
mais do que "servir-se"
Amar é doar-se,
mais do que "entregar-se".

Que este seja
mais um dia abençoado
que a ampulheta do tempo
vá bem devagarzinho,

na passada ritmada
do trenzinho caipira,
do mestre Villa-Lobos,
na cidade do interior,

nos caminhos de pedra
- Velho paralelepípedo -
e saibro, de bicicleta
charrete ou, a cavalo,

se porventura ainda
houver alguma pressa.
Mas, que chegue bem
hora de bater o cartão

no relógio de ponto,
quando a sirene
da fábrica de papel tocar,
e a cidade toda despertar,

Ou com apito do guarda
Ao chegar o trem barrinha
Na antiga estação
de Santana de Barra...,

Porque lá estarão
e nos receberão todos
que fizeram nossas vidas
ter um sentido todo especial.

AjAraújo, poeta humanista, para os íntimos, simplesmente Tetinho, escrito com carinho para todos os amigos e amigas de minha terra natal querida - Santanésia, em 18-Jan-2012.
 
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AjAraujo
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