Poemas : 

O coro da Primavera

 
 

Pendurado num cigarro vagueante
Na calçada iluminada pelo sol
Calcorreio em passos lentos meditantes
Escutando da fria brisa lembranças e memórias
Trazidas em embrulhos coloridos
Como os balões que fogem das mãos das crianças

Nas montras de vidro o reflexo de mim
Não permitindo vislumbrar os artigos expostos
Cuidadosamente colocados para chamarem a atenção
Obrigando-me a prosseguir colado à sombra que me segura
Sem qualquer direção definida ou escolhida

Chegado a um banco de madeira sento-me
Não pelo cansaço ou sequer pela curiosidade
De noutras sombras me rever
Antes pela vontade de ver o Passado
Desse jardim antes vivido e respirado

Conta-me esse variado colorido
As tardes soalheiras cantadas,
Os ritmos compassados de passos descansados,
As forças de lutar, juntas as vozes numa voz,
Reerguendo o corpo relaxado em decidida decisão
De desse jardim perfumado pelas flores ser guardião

E já das sombras se levantam outras faces,
Erguem-se os braços em entrelaços,
Punhos cerrados numa canção,
Decididamente em escolhida direcção
Para aos abutres fazer frente,
Gritando vorazmente o NÃO
Qual rugido de leão,
Levantando ainda mais a voz
Dizendo BASTA!

Segurando um cigarro
Retomo o caminho de regresso
Não deixando o fumo tapar-me a visão
Calcando as podres folhas ainda inertes
Sentindo na brisa agora morna
O refrão do coro das Primaveras
Cantadas pelo Povo da minha Nação




Delfim Peixoto © ®

 
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delfimpeixoto
 
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Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 20/03/2016 15:50  Atualizado: 20/03/2016 15:50
Usuário desde: 03/09/2012
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 Re: O coro da Primavera
Parabéns! Muito bom!
Beijos!
Janna