Poemas : 

Lutar não é um negócio

 

Foram anos duros aqueles que vivemos
nos escombros da cidade,
quando as almas tornaram-se menos rigorosas,
com o recrudescimento dos vícios.
Encharcadas pela chuva,
tudo parecia perdido
em meio ao cinza dos olhos vidrados,
das almas derramadas
como as águas depois da inundação.

Acariciam os amigos o rifle de assalto,
lembrando dos rostos doces das meninas,
que acompanhavam a canção.
Talvez em um lugar do mundo remoto,
num momento de angústia,
alguma esposa apertou o peito,
com tremores no coração,
acariciou o rosto frio de um retrato
sobre uma lareira na sala de estar.

Jardins e canções desvanecem,
na neve que absorve sangue e lágrimas,
ansiando na penumbra,
que antecede o arrebol
que descansar a alma seria desejável,
como ter sede não mitigada
definhando o coração.
Lutar não é um negócio
mas vou honrar até o fim
os compromissos assumidos.


 
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aziago
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/03/2016 00:49  Atualizado: 22/03/2016 00:49
 Re: Lutar não é um negócio
Tuas palavras mais do que poéticas ao meu parco entendimento denota-se um personagem de honra que sabe ter um modo de estar na vida como deve de ser.
Assumir e honrar promessas são gestos de pessoas de bem.
Gostei muito de ler,meu agradecimento.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/03/2016 23:06  Atualizado: 22/03/2016 23:06
 Re: Lutar não é um negócio
Nossa, que lindo esse poema!

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 28/06/2016 11:58  Atualizado: 28/06/2016 11:58
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: Lutar não é um negócio
Um poema duro como o tema que aborda.
Estrofes bem cimentadas onde se nota o papel que cada palavra possui no verso que a suporta, mostrando que a força do poema é uma força concebida por mãos (bem) experientes no ofício das palavras.
Há pouco espaço para o fôlego (mesmo entre estrofes) à semelhança do que ocorre uma luta. O que fica, porém, é a certeza de que estamos perante um poema que vai à luta para se (fazer) ouvir.
Esta tua primeira estrofe é, para mim, um portento. Lembrou-me o início do livro “Ressurreição” de Tolstoi e chegar a esse nível não é, obviamente, para qualquer um… fiquei paralisada por uns bons momentos, absorvendo-a.