Textos : 

O primeiro caderno amarelo - X e XII

 

X


Meia-noite e quinze de uma quarta-feira de maio. A televisão fechada. Leio Tolstoi, o clássico "Ana Karenina" que comprei fiado no sebo de Cesar Gordo na ladeira da rua Jacinto Maia juntamente com "L'adoration" do francês Jacques Borel, o clássico "Moll Flanders" de Daniel Defoe , "O Grande Enigma" do grande ufologista alemão Erick Von Daniken, o autor do polemico "Era os Deuses Astronautas" e um livro de conjugação de verbos franceses. - Entreguei a grade de seu Eriberto. O irmão do portão apareceu, paguei a conta de luz, encontrei casualmente com Vaguinho, o irmão do meu irmão Tio Willi, na esquina da Rua Afonso Pena com a Jacinto Maia convidou-me para conhecer o seu atual quarto no prédio da esquina. Todos deitados, um arroto com gosto de carne e bacon que jantei. O tic-tac automático do relógio de parde, o latido distante, o barulho de uma moto que passa na avenida - enfim o nada. Os motoristas de ônibus em greve. Morre o escritor mexicano Carlos Fuentes (ainda vou lê-lo). Obrigado Senhor por mais um dia vivido sem pesadelos.

Manhã ensolarada. Os pássaros piam no seu ninho em algum lugar sobre o telhado. Fiz a minha caminhada voluntaria até o deposito de ferro Ferronorte no bairro da Areinha para comprar os ferros da grade. Antes encarei um fato inusitado, antes da entrada do bairro do Sá Viana, um beco onde funciona a famosa bocada de Seu Raimundo. Entrei nervoso e cabreiro, nuca havia ido lá e não conhecia o esquema. Um magote de machos fumavam uns baseados sentados no alpendre de uma porta. Um dos "aviões", um rapazote moreno aproximou-se cheio de ginga e perguntou-me maliciosamente com a voz tipica de malandro:
- Qual é coroa, pedra ou alecrim?
- Alecrim - Respondi meio hesitante e entregando-lhe a nota de dois reais que já estava na mão..
Ele caminhou até os rapazes que estavam sentados no alpendre e entregou-lhe a cedula para um deles, o moreno que estava nu da cintura prá cima e um baseado na mão e retornou:
- Vai lá coroa - Disse-me apontando na direção da rapaziada que continuavam fumando descontraidamente.
Aproximei-me cauteloso deles, um rapaz do baseado tirou uma sacola cheia de maconha do lado e pós uma balança de precisão na calçada, começou a colocar os "camarões" no prato e depois os colocou na minha mão. Meio nervoso com as mãos tremulas com essa transação inesperada, procurei um papel para enrola-la - um "camarãozinho" caiu entre os capins. Encontrei um pedaço de um guardanapo de papel e embrulhei toscamente. A minha vontade era sair logo dali. O clima era muito pesado e a qualquer momento uma viatura podia entrar e dar um flagrante Mas a manhã ainda guardava mais uma surpresa agradável. A carona oferecida por um motorista desconhecido, enquanto esperava a Van. Ele parou e depois de uma volta pelas entranhas do Goiabal e Lira devido um engarrafamento na Avenida do Anel Viário, saímos na Praça da Saudade em frente ao Cemitério do Gavião. Um cara legal, fiquei surpreso. Desci em frente a Parada, agradeci-lhe pela carona atravessei as duas pistas e depois de uma pequena espera embarcar num lotação, sempre lendo Defoe. Desci em frente ao mercado e a rua onde atualmente moro com mamãe e família. Deixei os ferros lá e aproveitei para fazer uma boquinha - pão, manteiga, pimenta do reino e café sem leite.
E aqui estou no fundo da oficina preparando um bom baseado para degusta-lo tranquilamente na paz da minha solidão.

Noite na grande sala pequena da III Maison Bamba - Vila Embratel -

Mais uma vez embriaguei-me com os meninos da praça até as duas da tarde. Vim para casa, preparei minha fritura de bacon, linguiça, toucinho branco e um bife que sobrou do jantar de ontem. Deitei-me e levantei-me as quatro de pouca da tarde, ainda ressabiado do efeito do álcool etílico, banhei-me e desci para a oficina. Apertei um baseado e com o resquício do grode potencializou o efeito deixando-me quase embriagado. Cheguei ainda pouco, o serralheiro Preguinho continua na labuta desempenando alguma peça.
- Vou fazer xixi - Diz a pequena Clarinha levantando-se do sofá, indo para o banheiro e depois para o quarto.

XI

Manhã na Sala de Jantar - III Maison Bamba - Vila Embratel
Mamãe sentada de braços cruzados sobre a sua proeminente barriguinha com o ar de preocupação. Minha cunhada Dadá saiu para passar o dia com a irmã mais velha que mora na cidade de Pedreira e esta hospedada na casa da filha no bairro do Cruzeiro do Anil.
- O feijão já estava quase prono - disse Mama Grande candidamente - Dadá vai ficar zangada.
Trabalhei cortando os ferros do portão da irmã de Joãozinho. Seu Nezinho apareceu. Fechei um negocio para sábado. Comprei os pães e agora estou aqui na expectativa da chegada de Sara. Uma viatura da Pm desce a rua.
Sara chegou e prepara o almoço com paciência. Mama Grande respira um pouco aliviada. Levei o Diário datilografado de 1990 a 1995 para encadernar, mas infelizmente não deu e retornei triste.

Noite na Sala de estar

Minha cunhada cochila sentada na cadeira. Larissa no computador. Mamãe deitada na rede. Professor roncando. Lia Tolstoi, muito bom mesmo.
- Assistindo um bom filme cômico americano que gosto muito "M.I.B - Men in black".


 
Autor
r.n.rodrigues
 
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