Poemas : 

A visão da cabala

 



Lá fora o silêncio total,
imóvel um céu fatal,
de viaduto da avenida,
na cidade adormecida.
Sequer pássaros noturnos
revesavam-se em turnos
vigiando as ampulhetas
projetando silhuetas
sombras das asas arredias
nas aureolas frias
das lâmpadas amareladas
mal iluminando as calçadas.

Centenas de janelas
travadas às tramelas
- apartamentos herméticos
de habitantes hipotéticos
escamotearam a chaminé
e guardam o aroma do café
como tesouro do pirata
encerrado numa caixa de prata.
O gato do vizinho em solidariedade
suspira para os fios de eletricidade
imaginando numa clave de sol
notas do jantar tardio em bemol.

Tanta placidez e monotonia,
cochilei ainda na portaria,
quando dos últimos degraus do infinito
faiscaram inscrições em sânscrito
impossibilitando a visão da cabala
da fechadura da porta da sala.

 
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Dellamare
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 30/08/2016 18:45  Atualizado: 30/08/2016 18:45
Usuário desde: 06/11/2007
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Mensagens: 1932
 Re: A visão da cabala
A rima e o ritmo embalam-nos enganadoramente para um estado leve de sonolência.
Mas somos enquadrados nos entretantos numa deliciosa fluidez, descrições ricas, principio-meio-fim...

Enganador com já referi. Porque enriquecedor.

Gosto.

Até parece que estou no face...