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Além das nevoas Azuis V - O Bonissimo Padre Gerosa

 
CAPITULO V
O BONÍSSIMO PADRE GEROSA


Padre Gerosa encontrava-se no seu humilde apósento, abaixo do Salão dos Martírios, de onde ecoavam os gritos e as lamurias dos penitentes. Sentado na sua rústica mesinha, escrevia o Diário da Vigília., enquanto descansava um pouco depois das atribuladas e cansativas missões que desempenhava com vigor: como o de vigiar e ajudar as pessoas carentes que moravam debaixo da ponte do cais das repentinas marés altas. Muitos deles morriam afogados, antes mesmo que ele os pudesse chamá-los. Mas naquela tarde observara um estranho que passara a manhã toda sentada na beira alta, descalço e pensativo “Quem será aquela alma atormentada/” nunca o vira por essas bandas. Ficara horas a vigiá-lo, com o rosto atormentado, ele pressentiu que aquele sujeito precisava de ajuda. Depois de muito hesitar, quando finalmente resolvera abordar o desconhecido, o mesmo levantou-se bruscamente com o pênis erecto e escafandeu-se por entres os arbustos da densa vegetação. Agora na sua cela clerical, absorto na tarefa de registrar os incidentes por menor que fossem, não poderia deixar de escrever a respeito daquele estranho que embrenhou-se na mata. Omitiu a ultima parte, que levado pela curiosidade seguiu-o até depara-se com ele agachado entre as moitas com a calça arriada até o joelho. Tudo bem, o homem fazia as suas necessidades fisiológicas, mas algo chamou-lhe atenção para o movimento constante do desce e sobe de uma de suas mãos que massageava com força o seu enorme falo e a outra nas nádegas. Padre Gerosa não era nenhum inocente e sabia muito bem o que significava aquilo, benzeu-se e retirou-se no mais completo silencio. O barulho dos gritos e dos estalidos dos chicotes chegava-lhe suavemente aos seus ouvidos: “Os penitentes lavam as suas obrigações “ – pensou enquanto fechava o grande caderno de capa dura, colocando-o numa tosca estante, onde havia outros iguais, ao lado dos livros sagrados. Levantou-se da cadeira, parou diante da pequena janela gradeada, de onde podia avistar a Torre das Confissões, a plataforma do aparelho voador, usado por D.Deus, o Nosso Verdadeiro para executar os reincidentes em crimes menores. Recentemente uma negra forte e valentona conhecida Bernadina foi a escolhida por transgredir as leis eternas foi empurrada a uma altura de 100 metros, foi preciso a ajuda do obstinado São Judas Tadeus. A rotunda negra debatera-se violentamente na insana luta pela sobrevivência, depois de muito esforço concentrado conseguiram arremessá-la, próximo ao Bosque das Onças. Ao relembrar a cena, persignou-se lançando um olhar para o Palácio Real de D.Deus, o Nosso Verdadeiro. E um grito lancinante penetrou-lhe na alma. Os sinos da Igreja da Sagrada Purificação anunciaram o inicio das horas mortas e todos sem exceções deveriam prepara-se para as orações. O grito desconhecido e o badalos trouxeram-lhe a realidade dura de seu claustro. O silêncio invadiu-lhe a mente, os chicotes e os gritos desapareceram e da janela entreviu um grande vulto pairando sobre uma das quatro torres do Palácio Divino. Abriu a porta e um coro de vozes em canto gregoriano reverberou pelo longo corredor, com os abades paramentados nas suas mirradas sotainas marrons, descalços saiam de seus cubículos e em fila indiana dupla e seguiriam para a capela da Abadia onde rezariam e se auto-flageriam-se até o amanhecer e depois sairiam para os seus afazeres cotidianos. Esperou o seu companheiro da cela da frente para entrarem submissamente naquela rotineira procissão. Mas uma coisa o perturbava, aquele sujeito masturbando-se possesamente, caso D.Deus tomasse conhecimento de tal ato libidinoso em Jeruz, seria o fim para ambos, principalmente para ele por omitir tal pecado e do pecador na cidade santa da eternidade.


Extraido do romance homônimo do Clube de autores (www.clubedeautores.com)

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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