Duetos : 

Volvere _ Margarete e Hierra

 
É duro, muito duro saber que a vida reserva sempre um fim para tudo e até o amor que parecia eterno acaba em um instante que julgavamos nunca chegar. Bato palmas à astúcia da vida e louvo-lhe a dureza mas não sei se algum dia me conseguirei habituar ao que ela quer que eu seja. O fim premeditado de tudo parece absorver as energias que ainda tinha.
Tenho o bolso vazio de esperança e uma tabuleta no coração a dizer “ Arrenda-se”. Tenho as mãos vazias de sonhos e pouco ou nenhum engenho para concretizá-los. Tenho um amor arredio que foge a sete pés cada vez que tento capturá-lo. Tenho pouco mais que uma vontade imensa de seguir em frente e um medo atroz de olhar, ainda que de soslaio para trás.
Tenho tudo num repente vagaroso de tempo, tenho tudo e não tenho nada, tenho todos e não tenho ninguém, tenho o mundo atado aos meus pés se me lançar ao mar afogo-me de certeza.
Tenho uma falta dentro do peito, um temor do que já se foi e do que virá, um sulco de dor a ocupar-me os suspiros, no rosto cravado de lágrimas umas sucessivas faltas enlatadas.
Resta-me limpar as lágrimas ao saiote de seda e não deixar que tudo isto me estreite o caminho traçado. Se tiver que morrer no caminho, não dou como perdida a jornada desde que tenha o coração arrendado a um inquilino que tranquilize todo o meu condominio. Toda a morte solitária é uma castigo, talvez demasiado penoso
Um volvere de amarguras doces.



. façam de conta que eu não estive cá .

 
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Margarete
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