Crónicas : 

EU ACUSO

 


Há uma falsa descompressão entre os poetas cibernéticos, perante o que os rodeia no seu dia-a-dia, no trabalho, na escola, ou noutras instituições, onde lhes é exigida grande concentração de esforços, físicas e mentais, e a realidade.
Sendo visto como poeta maldito, porque não tenho medo de pôr o dedo na ferida, e, de, nos meus poemas, tratar das coisas pelo seu nome, mostrando a pobreza, o fanatismo e a decadência da igreja, não me escuso a chamar de omissos os poetas, que, chegando a casa o mais longe que alcançam é entrada nas chamadas “cirandas”, onde têm caminho aberto para os seus escritos, não se importando com o que vai lá fora.
Sim… porque o que se vê, desses chamados poetas, é que eles querem ter uma noite descansada, pós trabalho. E, então, o que vemos, é uma arrozada de poemas de amor, que mais parece “dejavu” ou, como disse acima, correrem para a ciranda mais próxima, que, diga-se, facilita muito quem escreve, pois basta seguir a ordem dos outros poemas, ou, de tão calejados que estão, a coisa funciona automaticamente… não sei!
Diga-se aqui que não estou contra nenhuma forma de arte, nem como ela é concebida, os culpados são os próprios poetas, que, na sua maioria, ou não fazem falta, porque não sabem escrever, estando sempre a cair na mesmice, ou se dão ao desprezo, de usar o seu dom para escalpelar o que vai mal e falar ao povo: sim, meus senhores, chegamos muito longe, assim o que escrevemos, tem a sua influência, mesmo de uns para os outros. Como posso eu escrever sobre amor (que também o faço, pois que necessário, desde que não chegue ao vómito), com aquilo que se passa na América do Sul, em África ou no mundo islâmico? Como posso eu assistir a genocídios, à fome de crianças e velhos e não escrever sobre isso, para não falar no abuso das religiões, para com os seus seguidores – todas elas?
Ao poeta foi-lhe concedido esse dom pela natureza e a natureza somos todos nós e o que nos rodeia. Reparo que as pessoas lêem os poemas, não pelo seu conteúdo mas pelos títulos apelativos, o que é de uma irracionalidade de todo o tamanho. O meu poema “Às crianças do Ruanda”, que é bem esclarecedor com o que se passa nesse país tem, em determinado Fórum, 12 leituras, abominável, mas se puser como título “O nosso amor”, terei certamente leituras para dar e vender. Vale que nem todos os fóruns funcionam mal como este para ver que somos realmente lidos e que as pessoas até se importam e preocupam-se.
Há muitos poetas bons na Rede, conheço-os de anos, mas muitos deviam dedicar-se a outras coisas, como por exemplo serem bons leitores, optarem pela crónica (pois em poesia são uma desgraça), ou sendo críticos ante o que lêem. Acuso todos os poetas (excepção a uma minoria) de ultrajarem e servirem-se da poesia para outros fins (hobby e jogos de memória)! Acuso aquele que não chama a si o povo, defendendo-o e dando-lhe algum alento, mostrando-lhe novos caminhos e o seu valor intrínseco!
Isto não é uma nação de incompetentes, o hábito é que faz o ladrão. Acordem, poetas, ajam segundo os vossos valores e chamem os outros para essa demanda, temos um Mundo para salvar.

Jorge Humberto
22/02/08

 
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jorgehumberto
 
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Enviado por Tópico
Paulolx
Publicado: 01/04/2008 14:23  Atualizado: 01/04/2008 14:23
Da casa!
Usuário desde: 29/10/2007
Localidade: Norwich, Inglaterra
Mensagens: 235
 Re: EU ACUSO
Ola caro Jorge Humberto.
Não sei se chore se ria. Embora partilhe algumas das suas ideias e tentar fazer a minha parte diariamente para que as coisas mudem, não posso deixar de pensar que todas as suas capacidades poéticas e outras teriam uma mais proveitosa aplicação que este tipo de texto que me parece generalista e acusatório por demais.Pessoalmente preferia outro tipo de contributo mais positivo sem deixar de ser critico.
Todos os Poetas são Homens.Todos os Homens têm uma estória.E cada Homem conta a sua estória á sua maneira.
Não quero de maneira nenhuma desvalorizar a sua mensagem,pois até sei que este comentário vai trazer mais leituras ;), mas sinto alguma agressividade nas suas palavras,deve ser da minha excessiva sensibilidade, e creio que isso afasta os leitores.Coisa que creio não ser o seu objectivo.
Desculpe o longo comentário.
Abraços de um Homem que gosta de escrever e que acredita que a poesia reside nos olhos do leitor.

Enviado por Tópico
jessé barbosa de oli
Publicado: 01/04/2008 14:32  Atualizado: 01/04/2008 14:32
Da casa!
Usuário desde: 03/12/2007
Localidade: SALVADOR, Bahia
Mensagens: 334
 Re: EU ACUSO
CONCORDO. OS POETAS TÊM DE POSSUIR ESTE SENSO
DE ENGAJAMENTO POLÍTICO E SOCIAL, MOSTRAR AO POVO QUE ELE NÃO ESTÁ SÓ E QUE DEVEMOS CULTIVAR A
SEMENTE DA ESPERANÇA EM NOSSOS CORAÇÕES.
AFINAL, ELES PODEM DEFLUIR A SUA DOR E A DOR DAS
PESSOAS PARA CONFORTÁ-LAS E FAZÊ-LAS SEGUIR
EM FRENTE.
BEM, SUA CRÔNICA NOS EXORTA A UMA REFLEXÃO
SOBRE O PAPEL POLITIZADOR DOS POETAS.
VOCÊ ME LEMBRA MUITO MAIAKOVISK.

Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 01/04/2008 15:29  Atualizado: 01/04/2008 15:29
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3100
 Re: EU ACUSO p/ jorgehumberto
"o hábito é que faz o ladrão"???

O hábito faz o monge...

A oportunidade faz o ladrão.

Vindo de quem vem, este texto faz pouco sentido, mesmo porque há uns tempos atrás estavas a pedir sangue nas ruas de Portugal, que teriam de morrer alguns para que isto fosse ao lugar, que era necessária uma guerra civil, etc...

Sinceramente não compreendo como é que alguém que apregoa sangue e morte pode estar preocupado com as crianças do Ruanda. Realmente tem de existir preocupação relativamente a esses casos e a outros. Mas daí até vires aqui acusar seja quem for vai uma distância inumeravelmente longa.

Apenas escrevo este comentário por escrever sobre amor, mas, se estiveres atento - falo da minha escrita -, verás que encontras aqui muito mais sobre outros temas, outras linhas de pensamento.

Antes de acusares outros, lê o que escreves.

Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 01/04/2008 15:36  Atualizado: 01/04/2008 15:36
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8102
 Re: EU ACUSO
Jorge Humberto:
Cheguei aqui ontem; ainda não li grande coisa, neste site, mas gostei do teu texto, e concordo com ele em grande parte. Eu mesma já experimentei, no recanto das letras escrever duas mensagens de aniversário; pouco valem, mas tiveram entre 200 e 300 e tal leituras cada (ver em Zelda), e poemas com título amor são os mais lidos...Está claro que o título é importante quando o poeta é intervencionista, daí que eu esteja a ler este "EU ACUSO"; no entanto poesia é também arte, e nem só de pão vive o homem...No entanto apoio-te totalmente, porque o mundo onde chegámos, tem urgência de medidas correctivas e inadiáveis...Força Jorge Humberto!