CANÇÃO DA JOANINHA (*) (acesso restrito para maiores de 6 anos)

caro alemtagus

as crianças de 6 anos, hoje, infelizmente não são como as crianças de 6 anos do meu tempo. não se esqueça que as novelas da globo estão aí, algumas inclusive, aqui no brasil pelo menos, no horário das 6 da tarde. existem mães, por exemplo - e ninguém é mais contra a falsa moral do que eu,que vivi a época da ditadura e escrevia no jornal sob os olhos estúpidos de um censor- que vestem as crianças de prostitutas, inspiradas em xuxa e outras beldades da televisão. se você falar namorado para uma criança de 6 anos hoje, é capaz dela chamar você de careta. a erotização da criança é uma realidade, dura e cruel porque perdem a inocência muito cedo. há meninas de 12 anos que já transaram com seus namoradinhos, isto sem falar nos casos terríveis de pedofilia que acontecem mundo fora. recentemente, no brasil, uma menina de 11 anos - não se espante - deu à luz um filho do próprio avô.

júlio

meu caro,

meu próprio sobrenome não esconde: não tenho motivo para atacar Portugal. Pelo contrário, sou neto de portugueses, humildes, que chegaram aqui no Brasil como simples imigrantes, na esperança de uma vida melhor, como outros tantos. Cresci escutando fado, lendo Sá de Miranda, José Régio e Torga. Aliás, minha primeira influência poética foi Miguel Torga, aquele médico que se chamavaAdolpho, que era comunista como eu continuo a sendo até hoje, que dava consultas de graça aos pobres e passou um tempo mofando na cadeia por obra e desgraça da PIDE, assim como bem mais tarde o corajoso Padre Mário de Oliveira, que derrubou a farsa de Fátima, e hoje nem paróquia tem para exercer o seu ministério. Gostaria que você, antes de me acusar de deselegante para com o espírito luso, lesse alguns poemas que publiquei no EscritaCriativa e aqui também, declarando meu amor a Portugal. Aliás, cito em meus poemas mais autores portugueses, do que muitos portugueses, porque freqüento a Ebradil (distribuidora de livros no Brasil) e mantenho contato, graças ao poeta brasileiro Álvaro Alves de Faria, que tem publicado seus livros aí, com a doutora Graça Capinha, da Universidade de Coimbra. Minhas relações com o povo português sempre foram ótimas. Fiz amizade com a poeta Teresa Rita Lopes, que,como já lhe disse, participou de um recital de poemas, aqui no Brasil, comigo, ocasião em que li o tal texto que tanto escândalo causou. Quantos às regras, sou sincero em dizer que as desconhecia. Até porque o meu poema A Dissecação do Poema não teve nenhum problema. Se você reparar bem - pô, você também é poeta -, vai perceber que há indignação no meu texto e não maldade, erotismo ou pornografia Não me prestaria a isto. Tenho um nome a zelar. Literatura, para mim, é coisa séria.Vivo de escrever. Não escrevo para passar o tempo e, muito menos, para mandar beijinhos a mulheres que nem conheço. Repare que os comentários que faço são técnicos. Não me fecho em grupos e nem rasgo seda a ninguém. Aliás, recebi mais mensagens de apoio do que de repúdio.Peço que não me julgue mal. A Literatura é para unir e não desagregar. Leonardo Boff, nosso teólogo, banido da Igreja pelo nazista Ratzinger, hoje Bento XVI, por causa do seu livro Igreja - Carisma e Poder, escreveu; "A pretensão da verdade absoluta leva à intelorância." E eu, apesar de comunista declarado e militante até hoje, não me considero dono da verdade absoluta, embora lute pela verdade na qual acredito. Mais uma vez, não me leve a mal. E aceite meu abraço, do outro lado do oceano,

Júlio

Estamos conversados. Eu não levo a mal, nem tenho que levar porque, apesar de arauto, a situação é mais lata do que o meu entendimento ou sensibilidade. Não suporto nada em relações ou factos histórico/literários uma vez que não esse o âmbito, apenas em situações que já ocorreram e, que delas advieram consequências. Apenas isso. O discurso mais inflamado é consequência da forma como reagiu à situação. Por ser frontal, corro o risco de ser cru nas intervenções, o que pode ser encarado como defeito mas que não deixa cartas escondidas.
O abraço de quem está por bem é sempre aceite e será sempre retribuido.

Um abraço

Valdevinoxis

Então, meu caro, aí vai mais um abraço brasileiro.

A Poesia, nosso objetivo verdadeiro, agradece.

Júlio

amigo torres,

estou rindo do suposto motivo de sua antipatia pelo brasil. se for mesmo mulher, faz sentido. eu cá tenho as minhas mágoas de amor, o que acabou por me causar uma certa desconfiança pelo estado de minas gerais. mas, no seu caso, eu não ligo não. não sou ufanista, tanto que nos meus poemas não poupo o brasil e muito menos os seus governantes. acho absurdo, por exemplo, este surto de dengue. não tem cabimento. é puro descaso. quanto a portugal, é a pura verdade: comecei a escrever poesia influenciado por miguel torga, cujo centenário foi recentemente comemorado e eu recebi de uma amiga, que aí passou um ano como bolsista ou bolseira, como vocês preferem, uma agenda comemorativa com poemas dele e fotos, muitas de lugares por onde este magnífico poeta andou. conheci, aqui no brasil, um português dono de um restaurante, que foi garção em lisboa, e serviu muitas vezes um cálice de bagaceira a torga no café em que ele freqüentava. contou-me que era um homem magro e circunspecto, sempre rabiscando num guardanapo de papel. imagino quantos tesouros não estavam ali sendo fabricados.gosto muito de sophia andresen, davi mourão-ferreira (conheci um editor dele, que hoje mora no brasil), casimiro de brito, fiama hasse paes brandão e al berto - este bastante identificado com os nossos chamados poetas marginais da geração de 1970. soube que al berto morreu de sida na bélgica. fico feliz - e por que não vaidoso? - em saber que você lê os meus versos. todo escritor é vaidoso. eu sempre digo que a modéstia é a hipocrisia pintada de azul-marinho. se a gente publica, é porque acha bom, não é mesmo? quanto à namorada brasileira, sugiro que encontre outra. as brasileiras são bonitas. e há muitas mulheres à solta aqui no brasil. a população masculina daqui, pelo visto, não está lá dando muito bem conta do recado.

um forte abraço,

do outro lado do oceano,

júlio