CINCO DÚVIDAS INÚTEIS

Prezadíssima Amiga Núria,

Fico profundamente agradecido em saber que algumas pessoas (poucas, é verdade) sentem a minha falta nesta sala de cultura, que nos é cedida tão gentilmente pelos nossos irmãos e irmãs de além-mar. Pena que alguns deles, em especial os mais jovenzinhos, não gostem muito de mim. Imagine você que alguns até insinuam que tenho antipatia pelo povo português. O que não é verdade. Se fosse, eu estaria traindo as minhas origens. Nenhum desses meus críticos escreveu tanto sobre Portugal e autores portugueses quanto eu. Não tenho culpa se essas pessoinhas não conhecem a história e a literatura deles mesmos.Infelizmente, os jovens se americanalharam, como boa parte do mundo. Mas eu não estou nem aí: os autores e autoras portugueses deste e de outros sites me respeitam muito, e a recíproca é verdadeira. E é para eles e para nós, brasileiros, que me preocupo em divulgar o meu trabalho. O resto ignoro e nem perco tempo respondendo. O meu poema feito para Miguel Torga, um dos maiores poetas da língua portuguesa, teve o comentário de um único autor português: Henrique Pedro - e era justamente o deste grande poeta trasmontano, como Torga, que me interessava. Os demais comentários foram todos de brasileiros, que me deixaram também muito gratos. Quanto às minha dúvidas inúteis, continuo com elas há anos. E qualquer dia farei um poema com as respostas que me foram enviadas. Mas continuarei perguntando. Afinal, a poesia é uma eterna busca. E essa busca feita de perguntas que acompanharão o poeta até ao final da sua existência. Sem dúvidas a vida não teria graça.
Abraço e afeto, extensivo a esta filha linda que você tanto ama, tendo certamente a recíproca por verdadeira.

Júlio

Salve salve, Betha!
Salve salve, Belém do Pará!

Obrigado, muito obrigado mesmo, por você fornecer algumas respostas para essas minhas dúvidas inúteis, que me afligem há anos. Claro que guardo todas as respostas com extremo zelo e carinho. O que não significa, no entanto, que as dúvidas vão deixar de existir. Elas continuarão, como fantasmas íntimos no meu caminho. E outras virão. Mais inúteis do que escrever versos após os 50 anos, como é o meu caso.

Beijos pra essa linda Belém onde você reside.
E não se esqueça de acender uma vela à Virgem de Nazaré por mim, que sou tão pecador.

Júlio

Versos nunca são inúteis, Júlio!

Tanto faz se os escrevemos aos 18 ou 98 anos.Importa o que temos a dizer.O poeta e o poema não tem idade.Alíás, de_tes_to de falar de idade...rs

Assim, que eu conseguir aliviar os MEUS pecados com a Virgem eu falo por ti, tá bom?

Escreve sempre!Eu escrevo o que vem na imaginação e se pelo menos uma pessoa me ler e gostar já fico satisfeita.Criticar qualquer um pode...Fazer o que, né?

Bjins, Betha.

Betha, Betha!!!

Que a Virgem de Nazaré conserve sempre esse seu bom-humor e otimismo. Isto prova que você não tem pecado.Quanto à sua observação - tanto faz escrever aos 18 como aos 98 -, eu, um pessimista de carteirinha, digo, parafraseando Albert Camus, que tanto faz morrer aos 19 como aos 60. E mergulhando em Sartre, emendo: "Quando não se tem coragem de morrer de uma vez, o melhor é fazê-lo aos poucos." Assim talvez eu tenha o pessimismo desses dois filósofos somados à ironia do poeta Mario Quintana: "Eu faço versos como quem morre."
Como eu sou pretensioso e convencido!!! Deus que me livre e guarde!!! Rs rs rs

Júlio

Salve salve, Alemtagus!

Um axé bem baiano, à moda do nosso Godi!

Das respostas que me enviaste, do ponto de vista sério, agrada-me muito a primeira. Quanto a segunda, eu diria, parafraseando um amigo poeta, Álvaro Alves de Faria, brasileiro, muito querido em Coimbra, onde publicado os seus livros ultimamente que a amada embacaria no dia seguinte para Salvador, no primeiro vôo. As amadas são volúveis, se levarmos em conta o pensamento do poeta.
O arco-íris, você bem sabe, é uma ilusão de ótica. Dessa forma, a amada pode pensar que está tendo alguma alucinação, se é que não fumou ou bebeu alguma coisa a mais.
Quanto à bussola da vida, desta sim eu tenho medo: do mesmo modo que nos pode orientar também nos conduz ao norte da loucura. E essa loucura, às vezes, não tem volta. Melhor mesmo é ficar quietinho no bar, tomando um bom conhaque, já que aqui no Brasil os bons vinhos são caros. E embora a qualidade da nossa produção tenha melhorado - muitos vinhos nossos estão sendo até exportados -, o brasileiro, infelizmente, não tem por hábito tomar vinho, o que é uma pena.

Forte abraço,

Júlio

Prezadíssima Helen,

Honra-me muito as respostas enviadas para tentar sanar dúvidas inúteis que há anos me alimentam e perseguem, conduzindo-me, a passos lentos, ao inevitável abismo da loucura.

Suas respostas são interessantes. Mas, ainda assim, não me dissipam as dúvidas. Veja bem:

O azul nas grandes capitais, concordo, desapareceu do céu. Mas não de todo, pois na imaginação das crianças e das mulheres o azul continua belo. Ainda bem. Do contrário, poderíamos trancar de uma vez as portas do mundo. Quanto à segunda resposta, estou longe de concordar: hoje em dia, ninguém mais tem a dignidade de se matar por amor; caso um dos amantes o faça, o outro logo arranja um novo amor e cai no samba antes mesmo da missa do 7º Dia. Na terceira, creio que é melhor perder as meias do que o juízo, já que o arco-íris não passa de ilusão de ótica. Já no caso do crítico com o poeta lírico, as respostas variam: há críticos que também escrevem poesia, e neste caso pegam leve quando comentam seus colegas de ofício. Os que não fazem poesia, por pura falta de talento, são rançosos e costumam não gostar mesmo sem ler. O crítico, asseguro por experiência própria, pois exerci esta função até publicar o meu primeiro livro, são animais temperamentais. Mas, garanto-lhe, muitos deles é só você bater o pé que saem correndo. Finalizando, sobre a quinta questão: detesto chuva. A chuva me enche de melancolia, me põe chato e amuado. Prefiro mais é navegar nas ondas do meu bar, fumando, bebendo e jogando conversa fora.

Salve, salve Helen!!!

prezada Carolina,

grato, muito grato, por me enviar respostas para dúvidas que tanto me perseguem e incomodam, fazendo a vizinhança toda pensar que estou completamente louco. acho que ainda não é o caso. a primeira resposta sua é plenamente satisfatória. só acrescentaria de meu um detalhe que está na resposta que dei à companheira Helen De Rose, e que talvez, por execesso de modéstia, lhe tenha escapado. apesar de tanta poluição, de tanta judiação, culpa da mão e da mente humanas, sempre haverá um céu azul enquanto as crianças e as mulheres existirem sobre a terra. noutros tempos, eu incluiria os poetas, hoje nem tanto. na segunda, surpreende-me a resposta. as amadas, hoje em dia, dão de ombros para os lutos. trancam as lágrimas no armário, metem jeans, camiseta e tênis e caem na farra, porque ressuscitaram o velho ditado: uma lágrima pra quem vai, um sorriso pra quem vem. em todo caso, bem-aventurados (as) aqueles (as) capazes de morrer junto com o seu amor, que deles será o reino eterno da paixão. a terceira, eu sempre reforço: cuidado, afinal o arco-íris é apenas uma ilusão de ótica. e a gente, depois que cresce, acaba descobrindo que não há nenhum pote de ouro escondido nele. cabeça de crítico - eu já integrei este time - é a como a de juiz de direito: a gente nunca sabe o que vai sair dela. a maioria não gosta antes mesmo de ler. a quinta resposta sua é genial. esta não há o que mudar. faço minhas as palavras do poeta Manuel Bandeira: "Ainda bem que existe o álcool na vida da gente." E as reforço com o peso da frase de outro grande poeta brasileiro, Vinícius de Moraes, um expert em destilados e mulheres: "O uísque é o melhor amigo do homem. O uísque é um cão engarrafado."

Aceite o meu afeto,

do outro lado do Atlântico,

Júlio