SE EU MORRESSE AGORA...

Núria, desculpe pelo poema. Eu sei o momento que você está passando. Eu não deveria, pelo menos agora, brincar com uma coisa tão séria, que eu habitualmente brinco, porque a morte é tema constante dos meus escritos. Às vezes, por ter alguma intimidade com ela, eu a trato com certo deboche. Eu deveria ter segurado este poema.

Afeto,

Júlio

JÚLIO, DE FORMA ALGUMA FIQUEI MAGOADA COM TEU POEMA. A MORTE É A ÚNICA CERTEZA QUE TEMOS. E CÁ ENTRE NÓS, TENHO UMA CARTA DE DESPEDIDA QUE UM DIA QUANDO EU NÃO ESTIVER AQUI SAIRÁ DO PORÃO DA ALMA. A TUA JÁ FOI MOSTRADA E MUITO BEM. MEU AVÔ ESTÁ MUITO MELHOR DO QUE TODOS NÓS, DISSO EU TENHO CERTEZA. UM BEIJO MEU ESTIMADO AMIGO.NÚRIA

Prezada Poeta Vony

Com crueldade ou senso de humor, a morte sempre foi tema constante na minha poesia. Desde a infância ela vive comigo. Engraçado, porém, que não vou a velórios e nem a enterros. Nem ao enterro do meu pai compareci. Talvez seja por respeito e intimidade com a morte. Grato pelo carinho das palavras,

Júlio

Fernando, irmãozinho,

Nós não vamos morrer nunca. A Poesia nos legará a imortalidade. Fique tranquilo.

Menos mal. Mas assim quer dizer que não vou ter ninguém a olhar por mim... desenrasco-me sózinho.

Abraço

Poeta Isabor Navarro,

Sabe, agora, relendo o poema, que acabei de escrever, vi que você tem razão: parece mesmo uma versão, de pé-quebrado, claro,do primoroso E Agora, José? Eu gosto muito do Drummond. Pena que perdi a chance de falar com ele. Uma vez, fui entrevistar o Fernando Sabino. E ele me passou o telefone de Drummond. Liguei. O poeta atendeu, com sua voz miúda. Fiquei com vergonha. E desliguei o telefone. Idiota, perdi a chance. Quanto a Vinícius, é outro dos meus ídolos - "Quem pagará o enterro e as flores/Se eu me morrer de amores?" Tenho muito de Vinícius: pelo menos na boêmia e, dizem, no copo. No talento, estou longe. Mas Vinícius, quando vinha a São Paulo, hospedava-se na casa do produtor Fernando Faro, em frente onde eu morava com os meus pais. Eu tinha uns 16 anos. Via-o sempre, mas nunca me aproximei. Sou um tímido incorrigível, capaz de comprar um sapato com o número errado e não voltar à loja para trocar. Minha timidez é doentia. Eu me mostro escrevendo. Grato pelo carinho das palavras,

Júlio

Eu acho maravilhoso isso de sermos atravessados pela poesia que já foi escrita. As palavras são universais e pairam ao alcance da nossa sensibilidade. Reescrevemos com novos tons os poemas de sempre. E o que escrevemos vai acrescentando à esse mar de probabilidades poéticas onde mergulhamos. Tenho um orgulho imenso de ser mineira como o Drummond, que nasceu em Itabira, uma cidade bem acolhedora, perto de BH. E tenho paixão pelo Poetinha, que fazia poesia em tudo, até num batuque de caixinha de fósforo.
Eu lamentaria pelo resto da vida ter perdido a oportunidade de estar com um deles. Quanto à timidez nenhuma é doentia o suficiente para apagar o sujeito.
Obrigada pela partilha.

Sabe, Isabor, vou-lhe contar uma particularidade do Vinícius. Quem me falou foi o Toquinho. Ele não dizia, porque Vinícius era um grande caráter. Mas, embora tenha ficado consagrado como Poetinha, ele não gostava muito que o chamassem assim, sentia-se inferiorizado, pelo fato de ter partido para a letra de música, que os acadêmicos sempre consideraram uma atividade menor - muitos diziam que ele havia perdido a seriedade, e jogado a poesia, dita de livro, no lixo. Isto não é verdade. Vinícius deixou clássicos e só enriqueceu a música popular. A seriedade do movimento Bossa Nova só passa a ser adquirida quando ele ingressa com suas letras políticas. Drummond e Neruda chegaram a dizer que invejavam a coragem de Vinícius. Vinícius acho que foi o único de seus pares que viveu verdadeiramente como um poeta deve viver.

Júlio

Bem, Carol, com certeza você fará falta a seus filhos, sim. Mas você não vai morrer agora. Não sou Deus, mas garanto. Quanto a mim, embora não vá fazer falta a ninguém, pelo contrário - pode ser até que muita gente respire aliviada, também tenho mais alguns anos de lucro pela frente.

Afeto, Carol

Júlio

Não diga isso, todos fazemos falta
e só iremos cada um na sua vez.

beijo

De fato, Margarete, a morte é um bicho estranho. Mas não chega a ser um bicho-de-sete-cabeças porque está sempre a nos rondar. Acho que tenho uma certa intimidade com ela, desde que ingressei no jornalismo, exercendo, no início da carreira, a crônica policial. Nada tenho contra a morte. Só espero que ela me chegue no tempo e hora certos. Não quero mais nem menos. Até porque nós não temos lá muito querer.

Afeto do

Júlio

Irmão Poeta,

A morte sempre foi tema da minha poesia. Às vezes levo-a a sério, às vezes brinco com ela. Mas a verdade é que estamos sempre juntos. E, de certa forma, até nos damos bem. Não sei se estou pronto para recebê-la. Mas, cantando-a em meus poemas, quem sabe, sendo ela mulher, me poupe ainda por algum tempo. Do cintrário, não resta outra coisa, a não ser parafrasear mestre Bandeira: "A única coisa a fazer é tocar um tango argentino." E de tango em tango, mesmo com os pulmões danificados, Bandeira atravessou os oitenta.

Abraços,

Júlio

Veja como as coisas são: este poema foi feito, o que é raro de minha parte, direto no quadrado do Luso. Só depois dei alguns retoques. Não pensei que fosse ser tão lido e comentado. E, confesso, como disse a Isabor, que foi inspirado num poema de Vinícius de Moraes: "Quem pagará o enterro e as flores/Se eu amanhã me morrer de amores?" Claro que é uma história bem diferente da criada por Vinícius, que eu tanto gosto. Mas acho que o sentimento foi bem parecido. Inconscientemente, a gente sempre acaba esbarrando nos velhos mestres. Não vejo mal nenhum nisto.Mario Quintana, outro grande mestre, escreveu uma quadra a respeito: "Como o burrico mourejando à nora,/A mente humana sempre as mesmas volta dá.../Tolice alguma nos ocorrerá/Que a não tenha dito um sábio grego outrora..."

Abração,

Júlio

Olá, Poeta Luis

Muito obrigado pelas suas palavras. Fico feliz - e por que não dizer vaidoso? (todo autor é vaidoso, não é?) - quando gostam.

Forte abraço,

Júlio