Sonetos : 

Dez sonetos inéditos de amor

 
Não sei se és feliz

Não sei se és feliz, mas cá, Eu penso
Que deves ser! Quiçás seja, e desejo
Apagar o passado, esquecer o beijo,
E o teu carinho, falta de bom senso.

O que te diz respeito esta infenso,
A minha alma, a fogo e ferro escrito
Na angustia silenciosa do meu grito
E explicito no meu sofrer intenso.

Tento-me convencer, e não convenço
Que finalmente hei de esquecer um dia
O teu amor, e veja a minha agonia

Pois és feliz agora, como eu queria
Que tu fosses, porém que contra-censo
Se eu roubasse de ti tal alegria.



E fui buscar-te

E fui buscar-te, havia prometido
Mesmo sem te ter visto, ou conhecer
Mas eu sentia no âmago do meu ser
De somente para ti haver nascido

Eras o sonho que havia tido,
Por toda vida desde a puberdade,
E apesar de total disparidade,
Conhecer-te me havia enternecido.

Tua voz me fez rejuvenescido,
Tua ansiedade causou-me ansiedade,
E esquecendo o peso da idade

Fui buscar-te no Rio, embevecido,
E em cinco anos veio a realidade
Fostes-te, e em solidão tenho sofrido.
Quando partiste a solidão nefasta

Quando partiste a solidão nefasta
Apossou de mim qual noite escura,
E nos dédalos tristonhos de amargura,


Não consigo nas dores dar um basta.

Nada que tento, da mente afasta,
O meditar na realidade dura,
Da falta que deixastes, e perdura,
Como se fora praga de madrasta.

É um anticiclone que devasta
Minha alma, e endurece a catadura,
Não se vislumbra em mim quaisquer ternura.

às vezes em terríveis noites escuras,
Sinto-me qual um monge iconoclasta
Sorvendo o cálice dúbio da impostura.



Voltaste a quem te ama

Voltaste a quem te amava, e ama ainda,
Sejas feliz, é este meu desejo,
Para mim o futuro que antevejo
É amargor e solidão infinda.

A saudade é voraz, e nunca finda,
Ouço-te a voz que soa qual arpejo
Em qualquer lugar se olho revejo
A tua branca tez, pra mim tão linda.

A mão do esquecimento não me brinda,
Com a meta final do meu desejo,
De apagar o gosto do teu beijo.

E do carinho que me pôs na berlinda,
De carregar comigo a dor infinda,
E por querer buscar-te; sinto pejo!.



Sonhei, contigo, o sol estava posto,

Sonhei, contigo, o sol estava posto,
E uma noite amena e bela começava,
Tão branca, bela e nua tu estava,
Mas uma sombra te encobria o rosto.

Qual meu antigo sonho, que desgosto
Aquele que há tempos não sonhava,
Em que tua presença me tentava,
Por toda vida sem mostrar-me o rosto.

Em tentar te esquecer eu tenho posto
Um esforço contido, e que desgosto,
Pois me lembro de ti,e isto é frustrante

Que fermenta minh’alma, alucinante
pois Tua lembrança é levedo e mosto,
Mantendo-a ébria quase todo instante.



Ao viajares comigo

Ao viajares comigo, a meu lado
Reclinavas a cabeça docemente
Ao meu ombro , e hoje é comovente,
Relembrar, pois tudo já é passado.

A dor atroz me tem subjugado,
Pois te foste de mim, mulher querida,
É sombria e frustrante minha vinda
E lamentável é o meu estado.

Não podia jamais ter concordado,
Nem permitido, fácil, tua ida.
Hoje a penar minha alma sofrida

Conhece um vazio inusitado.
Que é como meu peito tem ficado
Desde a hora cruel de tua partida.



Que se pode fazer contra a cruel saudade?

Que se pode fazer contra a cruel saudade,
Quando se aninha ao peito e ali permanece
Pois é fogo cruel, que jamais se arrefece,
E independente de cor, de credo ou de idade

Não nos causa dor por ódio ou por maldade,
Mas é rede cruel que o pensamento tece
E a mente, o ser, o coração, tristes, padecem
A falta cruel do amor e da amizade,

Da convivência diária, de um aconchego,
De um carinho de amor, e dum momento
De um puríssimo e veraz deslumbramento

De um simples toque, um olhar ou um chamego
Que não sairá jamais de nosso pensamento
Que findamos por fim, pedindo arrego.



Jamais antes havia amado tanto.

Jamais antes havia amado tanto,
Nem amado talvez, oh! dor tirana!
Pois antes de conhecer-te Eliana,
Mulher alguma me fez derramar pranto

Sofro com sua ausência e entretanto,
Mesmo que repetisse a dor tirana,
Gostaria a minha mente insana
De voltar ao passado no entanto.

Nem mesmo sei avaliar o quanto,
Fui injusto comigo ao liberando
Antes eu lhe pedisse e implorasse

Para que junto tu ficasses, enquanto,
A terra continuasse ao céu girando
E o sol no infinito nos iluminasse.



Minha vida parou quando partiste.

Minha vida parou quando partiste,
E um marasmo só minha existência,
Não vejo mais em nada consistência,
E diuturnamente vivo triste.

A saudade é maligna, e insiste
Para que eu sofra triste tua ausência
Como um rito cruel de penitência
A um manipanço mau que me assiste.

A tristeza profunda que tu viste,
No meu profundo olhar, na despedida
E minha boca rindo, que fingida.

Era um rictus de dor e que persiste
Nesta terrível imitação de vida
Que esta parada desde que partiste.



Não nos teremos mais...

Não nos teremos mais, assim espero
E que tu sejas feliz é meu desejo,
Mesmo em sonhos, teu rosto, já não vejo
Não sei se não consigo ou se não quero

Por toda vida eu sonhei contigo,
Desde criança, e jamais vi teu rosto,
E hoje sinto, para meu desgosto.
Que tudo ocorre outra vez comigo.

Talvez um dia ao encontrar consigo,
A tua face esteja envelhecida,
E tu fujas de mim para não ter,

Que me encarar como simples amigo,
Um companheiro que daria a vida
A certa altura pra não te perder.



Mestre Egidio
xx


Mestre Egidio

 
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mestre Egidio
 
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