Poemas : 

O SOL SOBRE MIM(O HOMEM DA CADEIRA DE RODAS)

 
 
O SOL SOBRE MIM
(O HOMEM DA CADEIRA DE RODAS)



O homem, sentado na cadeira de rodas, analisa
O momento: disseca o céu que, em expansão, caminha:
Caminha em passadas paulatinas.
Por outro lado, o varão bivaga a querer sair com sua, hoje em dia, Tão vulgar e, ao mesmo tempo, tão insólita locomotiva. Sair á Rua.
Respirar a cidade. Ativar a sua vida de esquerdo-militante,
Detida na bruma do não poder calcinante, atroz, infeliz, Medusa!
Marcar com um companheiro de ex-legenda: sim, ansiando por
Vê-lo e discutir ou quem sabe ajudá-lo em seu brilhante projeto, Outrora,
Sumariamente relegado á fria prateleira do descaso,
O qual jaz soturno, ambíguo, nevoento, sepultado. Prateleira de Quem não quer semear a Revolução na mente de ninguém. Oh, Sim, a verdadeira Revolução Gloriosa: A revolução que pode Operar o povo,
Que podem operar as pessoas hoje mortas. Que pode operar o
Hoje chamado rebanho de massa de manobra.
Ele quer visitar uma exposição de quadros. Assistir á encenação
D’alguma peça. Ah, como gostaria de integrar uma amical e
Controversa pleiástica roda de ignotos poetas.
Enfim, apreciaria ajudar, como fomentador da cultura,
A nação alijada e oclusa nos presídios das chagas e das mazelas,
Chafurdada na sádica areia movediça da sarjeta que os lacera,
Encerrada dentro da masmorra sepulcral da tortura que os molda
Besta-fera.
No entanto, ele em casa...
Porém, ele já fora da sua automotiva cadeira...
Entretanto, jazido sobre o chão de sua alcova lúgubre e acerba,
Ele compreende a factual envergadura da magnitude de sua acre
Insignificância e impotências.


Compreensão que se transmuda em convicção:
Convicção que se avoluma na medida em que sua família
Uma ignominiosa palavra degusta:
--- Vadio! --- Eles falam, chamam, bradam, urram!
Não, mas ela perde seu efeito ferino,
Pois algo o motiva. Sim, ele ouve-escuta, ao longe,
Um exemplar do rei dos mitômanos em comício.
Porfim, sobre o circo, os mecenas e o dono, ele exara. Exara co’a
Destra, não á esquerda:
Porque esta é falha, falha de nascença. Aliás, como o mesmo o é em toda a sua opaca inteireza.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

 
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jessé barbosa de oli
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/07/2008 17:45  Atualizado: 20/07/2008 17:45
 Re: O SOL SOBRE MIM(O HOMEM DA...
Amigo jessé...
Teu poema é um desafio pra mim...
Mais vejamos lá:
Não temos mais pra onde correr?
Ou melhor, nascemos sem saber pra onde ir?
Ou, nos corrompemos como "gente"...?
De qualquer forma, é válido demais desenferrujar os neurônios com tua escrita.
Abraço
Edilson

Enviado por Tópico
Karla Bardanza
Publicado: 20/07/2008 17:55  Atualizado: 20/07/2008 17:55
Colaborador
Usuário desde: 24/06/2007
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Mensagens: 3263
 Re: O SOL SOBRE MIM(O HOMEM DA...
Teu poema é um grito, uma denúncia,uma indignação aberta no peito de tanta gente.Perfeito!

Afeto!

Karla Bardanza

Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 20/07/2008 18:16  Atualizado: 20/07/2008 18:16
Colaborador
Usuário desde: 13/10/2007
Localidade: São Paulo- Brasil
Mensagens: 4206
 Re: O SOL SOBRE MIM(O HOMEM DA...
Puta que o pariu, meu irmão Jessé! Desta vez você pegou pesado. E com mestria foi bem lá no fundo da ferida. Gostei muito, amigo.

abraço forte,

júlio s.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/07/2008 18:26  Atualizado: 20/07/2008 23:48
 Re: O SOL SOBRE MIM(O HOMEM DA...
Sem palavras. Nem sairiam. Ajoelho-me e rezo; por mim e por ti.
Vivos... graças à Deus!
Um abraço fraterno irmão Jessé.

Silveira