Luso-Poemas
 
Contos : 

De como tudo aconteceu

 
Numa hora lírica de um dia cinza, tão logo nasceu e era purpurina prenda à morte prometida, na pessoa de um cavalheiro nobre que dentro em breve bailaria, como um cisne arrogante, nas águas imensas que lambem todas as infâncias, apenas para que a alvura divina em forma de menina lhe atendesse os desejos.
Tornou-se moça com o testemunho das escuras oscilações dos dias imprestáveis e ensaiou reanimações de sonhos dormentes, com um sopro leviano valsando em seus lábios, mas não encontrou um meio generoso sequer que lhe pudesse alimentar o desejo indescritível de esquecer-se virgem.
Às vésperas do esperado infortúnio, um sorriso infantil renasceu em seu rosto; lhe roubou temores; desalojou do pouso febril as perturbações sonâmbulas que lhe impediram desde o berço, a felicidade: vestiu a alma de brilhos mundanos, amou os relevos do seu corpo imaginando mil homens impossíveis, executou com as próprias mãos o passo asqueroso há muito temido, proferiu maldições em nome da glória, violentou a graça pura dos jardins, maculou a ária sacra com pesadas pedras nos vitrais e pouco antes que o demônio montado numa quilha ferisse o mar à sua vista, ela teve a bondade de envenenar-se em público e de exprimir-se num desmaio, que a toda noiva cabe um dia desfalecer. E sem que ele a tocasse, terminou assim de morrer...



 
Autor
Amora
Autor
Textos deste autorMais textos
Rss do autorRss do autor
EstatísticasEstatísticas
 
Texto
Data
Leituras
881
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
Enviar este texto a um amigoEnviar
Imprimir este textoImprimir
Salvar este texto como PDFCriar um pdf
8 pontos
8
0
0
Recentes
In Vitro
Dominical
pequena apresentação amorosa
poeira
Previsão
Aleatórios
Inquietação
gostava de um dia escrever-te um poema assim...
Desarmonia
Promessas de Amora
copo vazio
Favoritos
por mais que atire pedras à solidão
volta,volta!melhor será dizer para nao ires...
Sesta
Cicatrizes
jaz um vermelho cheio de grama
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 09/08/2008 18:06  Atualizado: 09/08/2008 18:06
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4038
 Re: De como tudo aconteceu
A morte muitas vezes é uma cobarde fuga...

Gostei do texto.

Bjs

Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 09/08/2008 18:14  Atualizado: 09/08/2008 18:14
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3594
 Re: De como tudo aconteceu
... e já reparaste como é bela as cores crepusculares?..amanhã haverá outro ocaso, mas seguramente, não igual...e outro...e outro...e outro...

beijo

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/08/2008 18:53  Atualizado: 09/08/2008 18:53
 Re: De como tudo aconteceu
Querida amiga, vou te perguntar algo:
Já comeu amora com abelha? quero dizer, colheu direto do pé e meteu na boca...? Pois eu já!
A ferroada na língua é de arrancar lágrimas!
Teu texto não me arrancou lágrimas, mais picou minha mente! Aiiii.........................

Parabéns!
beijo
Edilson


Enviado por Tópico
gil de olive
Publicado: 09/08/2008 19:15  Atualizado: 09/08/2008 19:15
Colaborador
Usuário desde: 03/11/2007
Localidade: Campos do Jordão SP BR
Mensagens: 4838
 Re: De como tudo aconteceu
Foi criativa ao bolar esse texto!Belo trabalho!

Enviado por Tópico
Tália
Publicado: 09/08/2008 19:48  Atualizado: 09/08/2008 19:48
Colaborador
Usuário desde: 18/09/2006
Localidade: Lisboa
Mensagens: 2489
 Re: De como tudo aconteceu


Um texto diferente, gostei muito

Beijos

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/08/2008 21:29  Atualizado: 09/08/2008 21:29
 Re: De como tudo aconteceu
Gostei demais! e do título também (rsrsrs)
Você pode transitar livremente em qualquer estilo literário. Porque é competente no que faz ,e palavras nas suas mãos jamais serão frívolas ou desperdiçadas.
Bacana!

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/08/2008 23:34  Atualizado: 12/08/2008 23:34
 Re: De como tudo aconteceu
Amora,
deslizas pelas metáforas
sem qualquer deslize de sentido
e alcanças o belo
onde o olhar pára
e admirado divaga.

Beijos

Ulysses

Links patrocinados

Páginas em

Páginas sobre