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Poesia-Vida

 
Tags:  dia da poesia  
 
Quando a minha alma estava ferida,
o corpo ferido igualmente,
o Inverno se anunciava
inóspito, desabrigado, gelado,
- Antárctica de neves perenes...

Quando de mim todos os mares se ausentaram...
Todas as luas cheias se afogaram despenhadas
em imensos Oceanos...
Quando os afagos de uns olhos
onde repousava os meus olhos
se me fugiram - Sol...
Eu era agueiro, tromba de água
rio de montanha, veloz e frio...
Ai, nesse preciso momento...
Não chegou pessoa alguma.
Nem flores, nem Sóis,
nem sequer murmúrios marulhados de ondas...
Nem risos, sorrisos... esperança...

Quando dentro de mim
apenas habitava o vácuo e o vazio...
Quando nua, despida de mim própria,
avançava louca pela rua,
a busca de um amor maior, de uma paz permanente,
que de ausente, me tornava tão doente,
não encontrei mão amiga,
nem abraços, nem beijos, nem sequer quem me amparasse
quando, enjoada, me enrodilhava dentro do meu próprio
ventre...
e me despenhava no negro da rua...

Quando, nesta agonia, noite e dia, vagueava...
Pendulava na ponta de uma fraga...
perdida de mim, sem rumo, meio ou fim...
Não... não encontrei o carinho de abraços - os que pedia...
(tão magoada aos poucos sucumbia,
algemada no sentido de os receber...).
Morria no desalento... e nada acontecia...
Ai, nesse momento,
alguém com voz de vento bateu à porta...
Com medo abri...
Tinha forma imprecisa e hálito quente...
Tomou-me ali mesmo, nua, e fez-me sua...
Beijou-me as lágrimas, sorveu-me no beijo ardente parte da dor...
Secou-me com pontas asas aladas os tremores suores do
corpo...
Aninhou-se pelos poros da minha pele, mim a dentro
- talvez para sempre e lá habita -, (é hoje o meu diário
alimento).
Companheira de todas as horas, dia e noite, noite e dia...
Tem os tons da maresia, o negro da ventania, o brilho da
utopia...
SIM, Falo de ti POESIA...

Fizeste de mim esta criança,
que temerosa ainda... guiada pela tua sábia mão
avança, no traçado dos caminhos poéticos ou de prosa...
Eu, a tal, a deposta Rosa, vagueio agora amparada,
colada com a madrugada...
Eu, Rosa do Nada!!!
Poesia... Obrigada!
Amiga... Devolveste-me a vida!!!

In Sibilam Pedras na Encosta, de Mel de Carvalho, Ed. Corpos, 2007

****

(Dedico este poema, Hoje, dia Mundial da Poesia, a todos vós, POETAS)! Bem hajam por soltarem as palavras! Obrigada!


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 21/03/2008 23:29  Atualizado: 21/03/2008 23:29
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: Poesia-Vida
Um poema belíssimo Mel! Belíssimo!
Também eu sinto que por vezes a poesia me dá vida... outras vezes morte...
Parabéns pelo poema! Abençoada sejas Mel!

Um beijo enorme

Vera


Enviado por Tópico
Pedra Filosofal
Publicado: 21/03/2008 23:32  Atualizado: 21/03/2008 23:32
Colaborador
Usuário desde: 17/09/2007
Localidade: Barreiro
Mensagens: 1273
 Re: Poesia-Vida
Lindo poema!! Mel, sempre em forma. Cada poema teu que leio é mais uma razão para continuar a ler-te


Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 21/03/2008 23:32  Atualizado: 21/03/2008 23:32
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: Poesia-Vida
Minha querida amiga Mel
Sabes que és alguém especial no meu coração.
E que mesmo não te vendo diariamente, te penso e te quero muito bem!
És uma pessoa excepcional e que eu me orgulho de conhecer e de ter como amiga, mesmo que num plano mais virtual do que real.

Obrigado pelo carinho... deixaste-me sem mais palavras.

Beijo grande


Enviado por Tópico
Liliana Jardim
Publicado: 21/03/2008 23:34  Atualizado: 21/03/2008 23:34
Usuário desde: 08/10/2007
Localidade: Caniço-Madeira
Mensagens: 4412
 Re: Poesia-Vida
Já tinha lido esse teu poema no livro sim, amiga achei-o lindo...

Reli-o hoje e continuo a acho-lo lindooooo

Beijinhos poetisa
Obrigado por esta homenagem e este momento de poesia


Enviado por Tópico
juvepp
Publicado: 22/03/2008 11:34  Atualizado: 22/03/2008 11:34
Colaborador
Usuário desde: 13/04/2007
Localidade: Machico - Madeira
Mensagens: 547
 Re: Poesia-Vida
OLá Mel,
Adorei o poema. Fazer da poesia a companheira dos teus dias foi a salvação para uma vida "perdida", "sem rumo, meio ou fim...". É verdade, quando tudo falta, resta o orgulho da criação, da arte poética que com engenho e mestria, sublima a vida.
Beijinhos e Páscoas Felizes