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Um Sonho Chamado Arco-Íris

 
Rafael tinha sete anos e vivia com os pais numa cidade grande. Ele nasceu diferente dos outros meninos. Ao invés deles, não podia correr, nem saltar, deslocando-se apenas na sua cadeirinha.
Costumava passar muito tempo por detrás da janela do rés-do-chão, do prédio onde morava, a observar o movimento lá fora. Via os blocos de apartamentos erigidos de encontro ao céu, o vaivém das pessoas e dos automóveis, e as correrias das outras crianças, que alegres, deambulavam de um lado para o outro nos passeios.
Por vezes, uma lágrima teimosa deslizava silenciosamente pelo seu rosto abaixo. Também ele queria ser capaz de correr atrás de uma bola, perseguir borboletas pelo parque ou andar de bicicleta e sentir-se livre, com o vento a rosar-lhe as faces.
Então, sem que se apercebesse, a mãe abeirava-se dele e enlaçava-o carinhosamente nos seus braços.
― Porque não posso ser como eles? ― perguntava Rafael, apontando as crianças na rua.
A mãe cingia-o de encontro ao peito e falava numa voz tão doce, como só as mães têm.
― Sabes Rafael, tu és um rapazinho muito especial… É certo que não podes correr como os demais, mas deténs um poder ainda maior… Tu podes voar! Com isto... ― dizia, ao mesmo tempo que colocava a palma da sua mão, sobre o coração de Rafael, que nesse momento batia apressado, cheio de amor e de esperança.
O menino acreditava profundamente nas palavras da mãe. Tinha até um secreto desejo. Queria ser capaz de voar até ao arco-íris e trazê-lo consigo, para assim poder brincar com as suas cores, e com ele colorir o cinzento que ensombrava a cidade. Aí, raramente se avistava o arco-íris, por causa dos altos edifícios e da poluição.
Na escola, Rafael sentia uma certa solidão, pois, nos intervalos, os seus companheiros de aprendizagem preferiam brincadeiras e jogos de grandes correrias, ao invés de optarem por actividades, em que ele também pudesse participar. Desta forma, entretinha-se sobretudo, a desenhar. Os seus desenhos eram sempre cheios de cor.
Um dia enquanto pintava, aconteceu algo inédito.
― Está muito bonito… ― murmurou a sua colega Mariana, que timidamente espreitava o que Rafael fazia.
Surpreso, ele sorriu.
― Gostava de saber desenhar como tu…
― A sério?! ― admirou-se Rafael.
― Sim…
― Se quiseres, eu ensino-te…
― Oh! Claro que quero!
A partir desse dia, Rafael partilhou as cores dos seus lápis com Mariana, sentindo-se imensamente feliz por dividir com alguém, aquilo que melhor sabia fazer. Já não se sentia tão só.
Talvez guiados pela curiosidade, ou pela magia das cores, que possuíam os desenhos de Rafael, nos dias que se seguiram, novos colegas se lhes juntaram.
Foi tanto o entusiasmo, que as crianças conseguiram despertar a atenção dos adultos. Estes, acharam as pinturas tão lindas, que resolveram fazer uma exposição no centro da cidade, para que todos pudessem ver.
Afinal, e como por magia, Rafael conseguiu concretizar o desejo de levar as cores do arco-íris, até ao cinzento da cidade.
A sua felicidade era tamanha, que mesmo sem no céu se avistar, o mais belo arco-íris refulgia no azul dos seus olhos.

Texto publicado no Diário de Turma, suplemento do Diário de Coimbra,em Janeiro de 2007.
 
Autor
LurdesBreda
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 26/08/2008 19:58  Atualizado: 26/08/2008 19:58
 Re: Um Sonho Chamado Arco-Íris
Lurdes,
Já tive a oportunidade de ler contos infantis da tua lavra. Tu tens jeito e talento para falar do e ao mundo infantil.Mais um conto que tinge os nossos olhos de cores e emoções!
Bjins, Betha.