Prosas Poéticas : 

Nas manhãs descalças...

 
Nas manhãs descalças acordo pela metade
Desperto entre dois breves pestanejares diferentes
Espreguiço o lado nocturno
e deixo entre lençois a luz do dia
Não é a linha infinita do horizonte
que impede o despertar completo,
É o nevoeiro turvo que me rouba o chão
onde quero pôr os pés
...
Nas manhãs descalças acordo pela metade
Esfrego os olhos entreabertos mas ainda durmo
Bocejo a rotina estremunhada
e sinto o descompasso
Não é o meu corpo que ainda dorme,
nem a minha alma que ainda sonha
É uma face conhecida que se desconhece
na violência do acordar
...
Nas manhãs descalças acordo pela metade
Abro as cortinas dos planos e só quero o imprevisto
É no espelho que procuro apoio
para me encontrar com o mundo
Não sou eu!
Não sou o reflexo frio que recebo nem sou quem o olha
Vejo um ser estranho que finjo não conhecer
nestes amanheceres de chão frio
...
Nas manhãs descalças acordo pela metade
...e não me conheço!
Apresento-me cordialmente ao dia
e faço-me acompanhar da noite
Protejo-me da constância
para não perder a inconstância que ainda dorme
Não percebo se acordo, se durmo,
se vagueio sonâmbula em passeios virgens
...
Nestas manhãs descalças não saio do sonho
Fujo de mim pelo eco das ruas



By .*.Magia.*.

 
Autor
.*.Magia.*.
 
Texto
Data
Leituras
885
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Tytta
Publicado: 03/04/2007 10:29  Atualizado: 03/04/2007 10:29
Colaborador
Usuário desde: 22/02/2007
Localidade: Portugal
Mensagens: 789
 Re: Nas manhãs descalças...
Uma contradição muito bem conseguida. Um pardoxo extraordinário de palavras!
Adorei o poema!
Tytta

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 03/04/2007 16:13  Atualizado: 03/04/2007 16:13
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: Nas manhãs descalças...
Nas manhãs descalças
Em que dizes acordar pela metade...
Não deixas de ser quem és
Quando ainda... sonâmbula vagueias
E de ti foges no sonho
Pelo eco das ruas cheias

É lindo e mágico como tu!

Beijo