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A CADEIRA DO DRAGÃO

 
Aonde foram parar as minhas unhas, minhas roupas e minha honra?
Não sei que horas são, que dia é hoje; amarrado à essa cadeira de alumínio, esse tempo de chumbo não passa.
Aonde foram parar as minhas unhas, meus sonhos e minha mulher,que ainda à pouco estava aqui, sendo enrabada na minha frente?
Não sei o que eles querem ou me perguntam, e até o meu nome verdadeiro ou falso, eu já esqueci!
Fui preso(seqüestrado) em plena luz do dia, e encerrado na escuridão desse porão mal-assombrado
por gemidos moribundos.
Fui açoitado com fios desemcapados e ligados à sanha de meus inquisidores.
E aonde foram parar as minhas unhas, minh'alma e a saída desse inferno?!
Meus gritos inaudíveis de preso político, abafam as rajadas e os gritos de vitória da guerrilha urbana sobre a superfície.
E assim como as minhas unhas e tudo o que me foi arrancado pela segurança nacional, eu também desapareço nas páginas da história e da anistia, mas não entregando nenhum companheiro.

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reinodalira
 
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Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 27/09/2008 21:32  Atualizado: 27/09/2008 21:32
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Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: A CADEIRA DO DRAGÃO
Reino,
Admirável poema que ilustra tão bem o grito de revolta de um preso político.
Nós por cá, antes do 25 de Abril, já passamos essa situação, com a então PIDE.
Adorei a parte do "não entregando nenhum companheiro", apesar das torturas...
Admiração
Nanda