Poemas -> Reflexão : 

VÔO METAFÍSICO

 
VÔO METAFÍSICO
 
VÔO METAFÍSICO
Juliana S. Valis


Amor, asas de versos


Revestidos com laços do outrora,

Humanamente perdidos

No labirinto de tudo

E todo êxtase que se evapora

Cada dor de um dia mudo

Desenharam em minha alma

Um mapa tão complexo e confuso

Que nem mesmo a minha sombra

Foi capaz de decifrar...



Ah, se esses olhos escuros não fossem meus

Se essas palavras tão míopes

Enxergassem apenas luz no fim do túnel,

Talvez minha mente transcendesse

A insipidez do nada, agora,

E meu coração não seria mais esse

Relógio anacrônico no qual a hora

Simplesmente vaga e não passa

E não ri, nem canta, nem chora...


Ah, como eu queria, em verdade, não ser

Mas sou apenas fragmentos de quem não fui

Enquanto a existência me algema em você,

Condenando-me ao tempo que flui

Denso e tão célere, sem mais, nem porquê...



Sim, eu queria apenas e nada mais

Publicar um verso azul de paz

No âmago de um coração ardente

Saltitando feito letra, simplesmente,

De tal modo que toda matéria

E todo furacão que o amor induz

Pudessem transcender o vácuo vão

De uma existência em luz

E sem a cruz de dias tão vazios...



E talvez assim

Eu pudesse ser

Algo além de mim

Algo aquém de você

Como rimas-sublimes

Poemas-pássaros

Sem dor, sem crimes

No amor, ávidos

Por poemas cheios
De letras-aves

Sem cor, sem freios

Nas noites tão vorazes

Que alçam vôo

Sem sofrer demais

Com asas leves

Sem olhar para trás

Com sonhos breves

Irradiando a paz

Em cada canto

Em cada pranto

Do horizonte humano !


Por tudo isso,

Não procure métrica exata

Nos furacões de letras trêmulas

Não procure razão aritmética

Onde só existe verso e mais verso,

Não busque a emoção mais sintética

Em tsunamis de amor já disperso;

Não ouse aplicar a fórmula de Báskara

Para transformar o sentimento-universo

Em equações tão díspares de amor e ódio...


Não, por favor,

Não procure o nada

Na raiz quadrada

De quem nós somos !


Não eleve tudo

À quinta potência

De um grito mudo,

Que faria do mundo ausência

Ao detonar um coração-atômico

Com nêutrons de aquiescência,

E fótons de luz, de cores,

Emanados por uma vida-essência

Usina vermelha de dores

Lídimas e tão cinzentas...


Definitivamente,

Não procuro o nada

Na raiz quadrada

De quem eu sou

Eu só procuro tudo

Elevado ao cubo

De um grande amor ...



Tampouco procuro lógica

Ou sentido, ou verdade hipnótica

Onde apenas exista emoção-liminar

No âmago de cada ilusão de ótica

Que flutua na alma, a vagar

Disfarçando o nada

Entorpecendo tudo,

Com o enigma do mundo,

Em cada eco tão mudo,

Em cada sonho profundo,

Como se eu não fosse apenas

Fragmentos de quem não fui.

---

www.cultura-diversao.blogspot.com

Poema registrado por Juliana S. Valis, copyright.



 
Autor
Juliana Silva Valis
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/11/2008 20:55  Atualizado: 27/11/2008 20:55
 Re: VÔO METAFÍSICO
O poema é bem longo, mas vale a leitura de cada verso.Introspectivo, viagem ao "eu poético" da autora.Destaco:

"Ah, se esses olhos escuros não fossem meus
Se essas palavras tão míopes
Enxergassem apenas luz no fim do túnel,
Talvez minha mente transcendesse
A insipidez do nada, agora"

Parabéns pelo excelente texto!
Bjins, Betha.