O relógio da cozinha
há muito que gastou a hora de chegares
e a comida arrefeceu
e a gata cansou-se de esperar
e adormeceu na cadeira
(e tu que não vens!)
Já são horas meu amor
olhei para a mesa dez vezes
para ver o que faltava
e já gastei a rua à força de a olhar
(e ia jurar que eras tu que vinhas lá…)
mas tu não vens
é hoje que tu não vens…
e a noite já escorreu e tapou as casas
e eu sei amor eu sei
que não são teus estes passos que ouço
porque a esses eu conheço de cor
(são pausados e leves)
mas mesmo assim não resisto
e atento nesse andar
mas não …tu já não vens…
é hoje que já não vens…
e um frio gélido cai como uma nódoa
no vestido que eu ia usar…
e a pele envelhece cem anos
e todos os pensamentos me cegam
e todas as veias se secam
e todos os rios me morrem na garganta
quando os passos param
e alguém me bate à porta
e me diz que nunca mais vais voltar!