Crónicas : 

Estes dias que correm

 
ESTES DIAS QUE CORREM


Para ser franco, começava já a estar complexado por não me sentir na corrente poética dos meus estimados concidadãos. Mais inclinado para a croniqueta (ou como se lhe queira chamar), nunca me tive na conta de poeta por nunca ter visto passar por mim o click que leva a esse patamar literário, que aprecio e de que todos os dias vejo (são me lidos) excelentes exemplares (o que passa por mim não é mais do que eventual arremedo). O texto do José Torres cujo estofo não preciso de comentar, tranquilizou-me. Se bem entendi “disse-me” que podia continuar a prosseguir na linha das minhas croniquetas. Desde já o meu apreço para quem estiver pelos ajustes de me ler. É coisa séria o que hoje quero dizer. Vou tentar resumir: Fez-me estremecer de raiva e de outros sentimentos que tais o documentário de ontem sobre o drama daqueles que estão já a sentir na carne e nos ossos (mas mais do que tudo na mente) os efeitos da crise em que mergulha o mundo ocidental. Chamo-lhe raiva por ser uma palavra capaz de condensar os sentires que me tomam nesta hora. O que eu digo ou quero dizer terá sido dito já mil e uma vezes por outros por outras palavras. Mas interessa que se diga, urge que se grite bem alto que a culpa é nossa, de todos e de cada um. Abomino ordenados e reformas de que todos os dias tenho conhecimento; não admito que a fome invada as casas de tantos, enquanto outros tantos vivem à tripa-forra, endeusados na sua opulência feita de teres e haveres que escandalizam. Como ainda hoje ouvi nas palavras de um amigo, a culpa não é da crise, a crise é que é a consequência natural de um desgoverno que as cabeças responsáveis, (economistas, sociólogos, políticos - oh políticos!) foram incapazes de adivinhar, apesar da evidência do que fatalmente viria aí. Claro, falo naqueles “especialistas” porque falar em administradores de certas coisas, como Bancos etc. será gastar demasiado tempo, desperdiçá-lo. Mas não é desperdício, urge que se diga alto e bom som, como é urgente denunciar aqueles muitos que estão a aproveitar a maré para explorar os que tem ao seu serviço, com o argumento de que não falta quem queira. Tem que haver resposta, tem que haver lucidez, temos que ser todos capazes de viver nos caminhos da sobriedade, definitivamente empenhados mais em ser do que em ter. Mas não nos iludamos, que este caminho passa por nós, os da dita classe média, que muitas vezes têm a tentação de pensarem que estão à prova de incómodos com aquilo que consideram algo que lhes não toca, porque o problema tem que ser resolvido pelos ricos. Só que o que se passa – ou está em vias de passar-se, que ninguém tenha ilusões - irá fazer estrebuchar todas as classes sociais. Deste estado de coisas só uma hipótese se vislumbra: o surgimento de uma terceira via, já que as outras duas faliram, estrepitosamente. Uma terceira via que conduza ao equilíbrio, à mil vezes apregoada fraternidade, já que o que se anuncia para quem está minimamente desperto, prenuncia fins de uma Época, qualquer coisa de imponderável que nem os ditos sábios ( que más provas deram disso) terão lucidez para prever. Quero apesar de tudo acreditar que por profunda que seja a mudança e porventura amarga, venha a resultar dela uma sociedade mais equilibrada e humana. Poderão parecer palavras de um sonhador, alguém que perdeu o sentido da realidade. Só que o que se passa e o que está a aprontar-se para a “linha de montagem” da futura caminhada dos homens parece-me justificar esse arrojo de sonho.

 
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luciusantonius
 
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