Poemas : 

Avós

 
O pomar está cheio...
As árvores cantam a chuva
Nos dias que passam perdidos,
Nos campos rasgados pelo arado.
O esvoaçar dos pássaros pelo meio,
Que vão bicando grainhas de uva,
Por entre os ventos revoltados
Que adormecem no montado.

Alongam-se as jornas…
Os dois bois que puxam a charrua
Ornam o horizonte que se funde no céu,
Misturam-se cores de fim de dia.
As manhãs são agora mais mornas,
Os velhos no adro da igreja, na rua,
Falam do antigamente, senhoras de véu,
Dinheiro que não se contava, mas dividia.

Pão na mesa…
Calejado… do dia anterior
Deixado endurecer para açorda,
Chouriça e queijo no fio da faca.
À noite, a luz do candeeiro acesa,
Junto à lareira, a sentir o calor,
A velha cozinheira gorda
Senhora simpática, bonita, fraca.

Corpos que ressacam…
Dores sem as quais não se vive
Afagadas com um copito de tinto,
Remédio sagrado dos nossos avós.
Arcaicas mezinhas que nos cicatrizam,
Que nos lembram como se sobrevive,
Que alteiam o digno instinto
Lembranças que não nos deixam sós.



A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
Autor
Alemtagus
Autor
 
Texto
Data
Leituras
15519
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
9 pontos
9
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Mel de Carvalho
Publicado: 18/05/2007 23:54  Atualizado: 18/05/2007 23:54
Colaborador
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa/Peniche
Mensagens: 1562
 Re: Avós
Chouriça e queijo no fio da faca.

Alemtagus, não vale... eu aqui com um ratinho na barriga (estou na casa de fds, não tenho cá nada. cheguei à minutos ...) e tu a falares destes manjares de deuses ... que saudades do tempo em que a casa de fim de semana era na Ponte de Sor ... a casa dos avós ... Não existem mais. Nem nada do que aqui nos contas ...

Mas ficam Lembranças que não nos deixam sós.

Um abraço, gostei muito mesmo!


Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 19/05/2007 17:21  Atualizado: 19/05/2007 17:21
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4038
 Re: Avós
Memórias da nossa infância contadas em histórias de encantar.
O pão, a açorda, a chouriça e o queijo... sabores e cheiros inesquecíveis.

Gostei mesmo muito.

Bjs


Enviado por Tópico
goretidias
Publicado: 19/05/2007 18:15  Atualizado: 19/05/2007 18:15
Colaborador
Usuário desde: 08/04/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 1237
 Re: Avós
Que saudades da minha infância e da vida no campo de então!
Um belo poema!
Um abraço


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/05/2008 10:20  Atualizado: 20/05/2008 10:20
 Re: Avós P/ALENTAGUS
UM MARAVILHOSO POEMA E UMA GRATA RECORDAÇÃO DE TEMPOS QUE JAMAIS VOLTA E QUE DEIXARAM EM NÓS MARCAS PROFUNDAS.

ESSES MANJARES DOS CAMPONESES ESSAS TERRAS LAVRADAS, ESSE SABORES TÃO NOVOS QUE AGUAÇAM NOSSA GULA, AS VELHAS LAREIAS E AS MEZINHAS SEMPRE À MÃO, TUDO ISSO NOS FAZ VOAR, RECORADR E VER A CARA DE TODOS AQUELES NOSSOS AVÓS QUE MUITO NOS AMARAM E PROTEGEREAM.

ADOREI AMIGO ALENTAGUS, UM POEMA SOBERBO CHEIO DE VIDA E DE RECORDAÇÕS.

UM ABRAÇO AMIGO