Sonetos : 

CEM SONETOS DE AMOR

 
Soneto XXIX

Vienes de la pobreza de las casas del Sur,
de las regiones duras con frío y terremoto
que cuando hasta sus dioses rodaron a la muerte
nos dieron la lección de la vida en la greda.
Eres un caballito de greda negra, un beso
de barro oscuro, amor, amapola de greda,
paloma del crepúsculo que voló en los caminos,
alcancía con lágrimas de nuestra pobre infancia.
Muchacha, has conservado tu corazón de pobre,
tus pies de pobre acostumbrados a las piedras,
tu boca que no siempre tuvo pan o delicia.
Eres del pobre Sur, de donde viene mi alma:
en su cielo tu madre sigue lavando ropa
con mi madre. Por eso te escogí, compañera.



Soneto XXX

Tienes del archipiélago las hebras del alerce,
la carne trabajada por los siglos del tiempo,
venas que conocieron el mar de las maderas,
sangre verde caída del cielo a la memoria.
Nadie recogerá mi corazón perdido
entre tantas raíces, en la amarga frescura
del sol multiplicado por la furia del agua,
allí vive la sombra que no viaja conmigo.
Por eso tú saliste del Sur como una isla
poblada y coronada por plumas y maderas
y yo sentí el aroma de los bosques errantes,
hallé la miel oscura que conocí en la selva,
y toqué en tus caderas los pétalos sombríos
que nacieron conmigo y construyeron mi alma.



Pablo Neruda
( 12/07/1904 — 23/09/1973)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

Soneto - X X I X



VENS da pobreza das casas do Sul,

das regiões duras com frio e terremoto

que quando até seus deuses rodaram à morte

nos deram a lição da vida na greda.



És um cavalinho de greda negra, um beijo

de barro escuro, amor, papoula de greda,

pomba do crepúsculo que voou nos caminhos,

alcançaria com lágrimas de nossa pobre infância.



Moça, conservaste teu coração de pobre,

teus pés de pobre acostumados às pedras,

tua boca que nem sempre teve pão ou delícia.



És do pobre Sul, de onde vem minha alma:

em seu céu tua mãe segue lavando roupa

com minha mãe. Por isso te escolhi, companheira.

.................................................

Soneto X X X



TENS do arquipélago as fibras do alerce,

a carne trabalhada pelos séculos do tempo,

veias que conheceram o mar das madeiras,

sangue verde caído do céu à memória.



Ninguém recolherá meu coração perdido

entre tantas raízes, no frescor amargo

do sol multiplicado pela fúria da água,

ali vive a sombra que não viaja comigo.



Por isso tu saíste do Sul como uma ilha

povoada e coroada por plumas e madeira

e eu senti o aroma dos bosques errantes,



achei o mel escuro que conheci na selva,

e toquei em teus quadris as pétalas sombrias

que nasceram comigo e construíram minha alma.
 
Autor
Pablo Neruda
 
Texto
Data
Leituras
849
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.