Prosas Poéticas : 

MANHÃS ANTIGAS

 
MANHÃS ANTIGAS
 
MANHÃS ANTIGAS

Relembro manhãs antigas em que o sol entrava, sem entraves de cortinas, no silêncio do meu quarto...
Havia tanta música no silêncio desse tempo, tanta paz, tanta harmonia!...

Era o cuco, ao longe, a anunciar que "a fim do mundo" não viria entre Março e Abril...
Os chilreios pendurados nas árvores vizinhas, a ensaiar sinfonias de Verão...
O ronronar dos atomizadores, ao longe, na árdua profilaxia dos míldios...
O zunir pachorrento de uma mosca, em acrobáticos voos de rotina...
Um chamamento, ao longe, da janela para a vinha em frente, musicado pelas ondas da distância quieta, cristalina...
O suspirar doce das rosas, em perfumada agonia, na jarra sobre a cómoda...
E o barulho mudo das partículas pacíficas, mansas, da poeira caseira, a bailar evidências fugazes, suspensas na ribalta de um feixe de sol...

Relembro o silêncio antigo do meu quarto e lembro, de fresco, de agora: a paz não é feita de silêncio puro... mas do silêncio inocente dos sons que já não há...


Teresa Teixeira


 
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Sterea
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 27/05/2009 19:54  Atualizado: 27/05/2009 19:54
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8095
 Re: MANHÃS ANTIGAS
Ser poeta é isto!!! Ter a capacidade de observar e colocar em palavras mágicas a própria poeira...beijinhos.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/05/2009 19:55  Atualizado: 27/05/2009 19:55
 Re: MANHÃS ANTIGAS
Abriste o seu Diário para encantar? Conseguiste. Esta prosa me arrebatou para este ambiente, lindamente descrito.

Belíssimas imagens.

um beijo e afetuoso abraço poetisa.
Silveira

Enviado por Tópico
(re)velata
Publicado: 27/05/2009 19:58  Atualizado: 27/05/2009 19:58
Membro de honra
Usuário desde: 23/02/2009
Localidade: Lagos
Mensagens: 2214
 Re: MANHÃS ANTIGAS
Linda a música que encerra o seu texto.

Parabéns pelo brilho da sua escrita!

Enviado por Tópico
saozinha
Publicado: 27/05/2009 20:03  Atualizado: 27/05/2009 20:03
Colaborador
Usuário desde: 09/08/2008
Localidade:
Mensagens: 1604
 Re: MANHÃS ANTIGAS
Relembro o silêncio antigo do meu quarto e lembro, de fresco, de agora: a paz não é feita de silêncio puro... mas do silêncio inocente dos sons que já não há...




Sterea:

Só me ocorre dizer,lindo.tranmite uma paz que nos envolve.

Beijo

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 27/05/2009 22:59  Atualizado: 27/05/2009 22:59
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: MANHÃS ANTIGAS
Sterea,
Rendo-me completamente à paz e simplicidade deste cenário.
Beijinhos na alma
Nanda

Enviado por Tópico
asv
Publicado: 28/05/2009 17:01  Atualizado: 28/05/2009 17:01
Super Participativo
Usuário desde: 14/02/2008
Localidade:
Mensagens: 106
 Re: MANHÃS ANTIGAS
Os sons, os sabores, os cheiros... até o míldio regressou, de repente, aos tempos em que a calda para a vinha era uma coisa de todos os dias...

O que esta vida urbana nos rouba, aos poucos...

E que bom relembrar

Enviado por Tópico
glp
Publicado: 29/05/2009 18:04  Atualizado: 29/05/2009 18:04
Da casa!
Usuário desde: 26/02/2007
Localidade: Belas
Mensagens: 464
 Re: MANHÃS ANTIGAS
Gostei destas manhãs...

Parabéns!

Bjos

Enviado por Tópico
Vergílio
Publicado: 31/05/2009 01:30  Atualizado: 31/05/2009 01:30
Colaborador
Usuário desde: 22/03/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 786
 Re: MANHÃS ANTIGAS
Que já não há. Talvez não volte a haver.
Mas o importante é descobrir outros silêncios com músicas que descansam a alma.
Beijo

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/06/2009 11:56  Atualizado: 03/06/2009 11:56
 Re: MANHÃS ANTIGAS
Tera

Que maravilha! não apenas este, mas todos do céu do teu "pássaro de aço" do éter onde se bebe o "Sentires" do teu "Cuco" não muito diferente do meu...

junto-te aqui um de "pásaros de aço":

Esvoaçando I

Sobrevoarei
teu monte
as paredes brancas
a palmeira
e tua adivinhada inquietação
meu desejo alado
apontando ao exacto lugar
do teu corpo nu
à comoção que me embarga voz e gesto
na imaginação do que seria
se aeroportos não fossem
sempre
lugares de ausência


Montemor, 2007

beijos
José Brás