Prosas Poéticas : 

No Verão

 
o cáustico sol aquece as pegadas frias na areia, desenhos abstractos desdenham a bruta súbida da maré. o silêncio quebrado pelo sopro repentino do vento que abana os cabelos dos presentes: semi-nús e descalços. o mar azul vincado com espasmos de branco abomina a areia pesada que o sustem. as pessoas divertem-se ou fingem divertir-se. as crianças divertem-se mesmo. os montes petrificados vão ficando mais velhos, vão ruindo e em metamorfoses intemporais aglomeram-se aos inatendíveis grãos arenosos. o sol continua a aquecer. as crianças continuam na plena diversão. os corpos começam a ganhar tons avermelhados, sobressai um vermelho ainda mais forte aquando mergulhados na água impetuosamente fria. o sol não chega para aquecer o mar e o mar é o suficiente para acalmar a dor dos corpos a arder. no verão e com o acompanhar do dia, a solidão da praia é uma nulidade. na noite, apenas vagueiam sombras imaginadas na vasta beira-mar a morrer pelas presenças interesseiras do dia. quem não tem medo do tempo? quem não se sente sozinho?

Hugo Sousa

 
Autor
HugoSousa
Autor
 
Texto
Data
Leituras
721
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.