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«« O meu fado«« ( carapau )

 
Olho-te nessa inércia descabida, só me apetece amarfanhar-te
Enrolar-te, maltratar-te de seguida fazer contigo um papagaio de papel
E deitar-te ao vento, para que possas voar sem tento
E tu continuas aí impávido e sereno, olhas-me do teu pedestal
De papel sem vida, e esperas…
Esperas que eu triste coitada te tinja de palavras sem nexo
Palavreado, mero palavreado, de quem se sente alguém
Só porque jorra no mundo meia de dúzia de arabesco, cheios
De coisa nenhuma, a que chama palavras e faz delas bandeiras rasgadas
Pára de me olhar, não estou louca, não
Apenas te reduzo à tua insignificância de papel em branco
Tu, tinhas a obrigação de me guiar os sentidos, de me ensinar
A escrever, somente aquilo que os outros querem ler
Mas não, mantens-te imóvel esperando, numa espera que me desespera
Que eu te cubra de raiva, de dor e de mágoa,
Ris da minha insanidade, sim ris a cada palavra amorfa
Que te enterro no peito
Grita, barafusta, ensina-me a ter tino
Ensina-me a escrever, palavras meladas, doces açucaradas
Daquelas que não dizem nada, mas que movem as mentes
Que lêem em cada palavra, a sua sina mal amada, que
Vêem em cada palavra um mulher só e despeitada
Que nada mais quer que ser agasalhada
Ah!Como eu gostava de ser assim, algodão doce na cabeça
Gelatina no coração, as ideias onde é que elas estão
Também não fazem falta
Só quero ser apaparicada
A culpa é tua, só tua, papel insensível, pareces papel pardo
Daquele onde embrulho o carapau, a que chamo
O meu fado.


Antónia RuivoOpen in new window














Era tão fácil a poesia evoluir, era deixa-la solta pelas valetas onde os cantoneiros a pudessem podar, sachar, dilacerar, sem que o poeta ficasse susceptibilizado.

Duas caras da mesma moeda:

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Autor
Antónia Ruivo
 
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Enviado por Tópico
(re)velata
Publicado: 27/06/2009 15:57  Atualizado: 27/06/2009 15:57
Membro de honra
Usuário desde: 23/02/2009
Localidade: Lagos
Mensagens: 2214
 Re: «« O meu fado«« ( carapau )
Adorei a originalidade do teu texto! É um «papel sem vida» mas que ri das ideias que saem ao contrário do que se quer. E é tantas vezes assim!

E ainda por cima, sem «algodão doce» e «gelatina» ficas sem sobremesa! Resta-te jantar o carapau como vingança!

Um beijinho!


Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 27/06/2009 16:28  Atualizado: 27/06/2009 16:28
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8104
 Re: «« O meu fado«« ( carapau )
Cheio de imagens muito bem engendradas. E a finalizar a do carapau como se de cereja se tratasse, rss. Beijinho


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/06/2009 16:38  Atualizado: 27/06/2009 16:39
 Re: «« O meu fado«« ( carapau )
Minha amiga,
Bonita essa tua imaginação, tão bem escrito, tão fácil de ler, tão tudo…
Uma delícia para a alma de quem escreve assim, sem rodeios sem curvas e contra curvas.
Amiga estou em dificuldades de dizer o que quer que seja, queria que esse texto fosse meu.

Fiquei pendurado com este texto
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Um beijo Antónia


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/06/2009 17:53  Atualizado: 27/06/2009 17:53
 Re: «« O meu fado«« ( carapau )
Grande, Antónia
Ainda que da duplicidade da leitura, desagrade à... leitura parcial de homens e de carapaus.
Duro e cruel
Verdadeiro como o Norte Geográfico.

Sou homem
sou homens
sou quase
e alguma raiva
de não ser

sou papel pardo
com alguns sinais
da fala de mulheres
de mãos
que possam ajudar-me
buscando
o deus que me julgo
tantas vezes

Desculpa, Antónia
sou homem


Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 28/06/2009 15:35  Atualizado: 28/06/2009 15:35
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: «« O meu fado«« ( carapau )
Ah carapau!
A minha Alentejanita é uma mulher/poeta de fibra.
Mas voltando ao carapau, esse peixe mais a sardinha são cá da minha terra.
Leva lá o carapau.
Beijinhos na alma
Nanda