Prosas Poéticas : 

memórias de um amnésico II

 
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Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.

o meu quarto.o meu quarto tem uma janela para o jardim que eu prefiro mante-la fechada enquanto dormito um resto de seriedade.faz-me lembrar a infância, os jogos e outras coisas significativas.onde adquiri o controlo e o consolo de estar em concordância comigo mesmo.loucura.estou farto desta demência como a proibição de dar um grito bem alto.é madrugada.ainda tenho a ferida de olhar para o por do Sol, de olhar o sol de frente.foi violenta a noite de ontem, antes ainda comia batatas fritas e bebia um cerveja bem fresca.um sofá.andava eu descalço entre o frigorífico e a cama.descanso no sofá.carrego na aparência uma repulsa dos dentes e como ofegante como nunca mais irei comer.melão.sem réstia de amabilidade construi uma casa no meu quarto.jardim.retorno.tenho agora a força de contrariar e me fazer ver que qualquer aventura dos homens não serão suplicas capazes por me suportar.a agonia dos dias.ninguém passou por mim.este desfalque,a vigília e a noite.adormeço.à semelhança do sangue provo uma gelatina de morango e regresso ao sofá como intermédio do sono.há uma má intenção de quem fica acordado para alem da noite.adormeço.musica e Rodrigo Leão.rosa.detesto a avareza como detesto o desconforto de viver numa casa imaginária para que possa descarregar o sofrível e saber das suas causas.(falarei do jardim mais tarde).parte de mim morre.provavelmente o sentimento mais preocupante seja a culpa.existir.movo-me e sei que ainda existo.ainda habito neste labirinto de sensações.naturalmente grito e os meus pulmões não rompem.vazios.casamento.há um movimento cultural que une e desune um dever bastante mastigado.estou de castigo.na casa.não caso.meu caso.minha vida é uma casa imaginária.arrasto-me com o sentimento de culpa por não contrair o matrimonio.sofrer.sofro sozinho.inesperadamente a minha educação foi suficientemente boa.sofro.sofro sozinho.banho.tomo agua fria pelo corpo.azulejos azuis e os nervos provocados pela ansiedade de ter queda de cabelos.cabelos brancos.saúde.disfarço o destrutível dos ossos abrindo caminho à fome.sabe bem uma laranja e uma maça bem dura amaciando as gengivas.de volta ao quarto.as experiências da vida instituiram-me como sem ferir demasiado o orgulho e até sinto com uma certa vaidade. as indiferencias que outros anos por mim passaram.escrevo.escrevo o que me perturba, faz parte da minha natureza que assim seja.desenvolvi esta técnica em poemas soltos e no diário.uso a escrita como tentativa de fuga e depois adormeço, deixo-me domar pelo cansaço.já faz tarde.o dia nasce.
 
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Caopoeta
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Enviado por Tópico
jessébarbosadeolivei
Publicado: 06/07/2009 14:36  Atualizado: 06/07/2009 14:36
Da casa!
Usuário desde: 14/09/2008
Localidade: SALVADOR, Bahia ---- BRASIL
Mensagens: 368
 Re: memórias de um amenésico
acachapante! para mim, é uma nitroglicerinante viagem de introspecção,
filtrada por um poético fluxo da consciência.

Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 06/07/2009 16:12  Atualizado: 06/07/2009 16:12
Colaborador
Usuário desde: 08/02/2008
Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: memórias de um amnésico
Li duas vezes porque fiquei, da primeira, dançando zonza dentro da casa do teu texto, saltando os pontos. Depois fui recuperando a normalidade e o efeito da cerveja.
E me lembrei do Paulo Ricardo, o jovem poeta que, como tu, é tão rico que deve estar por aí, bêbado de si, poeticamente satisfeito!

Excelente!

Beijo

Amora

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 06/07/2009 16:26  Atualizado: 06/07/2009 16:26
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: memórias de um amnésico
CAOPOETA,
Impressionante texto.
A capacidade de transcrever o teu riquíssimo e perturbante mundo interior.
Beijo
Nanda

Enviado por Tópico
Psiqué
Publicado: 06/07/2009 18:07  Atualizado: 06/07/2009 18:07
Participativo
Usuário desde: 25/06/2008
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 Re: memórias de um amnésico
Meu caro,
texto genial. Nada de lugares comuns, nenhum conforto, além do conflito. Como numa perfeita e intrigante teia de memórias recortadas.
A alteração da pontuação como recurso literário tem um efeito devastador sobre o leitor (a). É como ler uma mente esquizofrênica.
Repito, genial!
Beojo,
Psiqué.

Enviado por Tópico
arfemo
Publicado: 06/07/2009 20:34  Atualizado: 06/07/2009 20:34
Colaborador
Usuário desde: 19/04/2009
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Mensagens: 4812
 Re: memórias de um amnésico
Excelente e perturbante esta viagem a um tempo interior incapaz de paz. Uma turbulência psicológica que a escrita soube adequadamente transmitir.

Abraço.

arfemo

Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 06/07/2009 21:18  Atualizado: 06/07/2009 21:18
Membro de honra
Usuário desde: 09/05/2008
Localidade: Carregado-Alenquer
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 Re: memórias de um amnésico
Um texto que nos envolve na leitura uma mente em perturbação na vida talvez banal ou comum, nas complicadas vivencias da mente...gostei

Beijos

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 16/07/2009 16:04  Atualizado: 16/07/2009 16:04
Colaborador
Usuário desde: 12/07/2007
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 Re: memórias de um amnésico II
...agradeço a todos pela atençao que deram ao texto, pelo comentario assertivo de cada um de voçes!
abraço