Contos -> Tristeza : 

Elementos: ar

 
 
Esta é a primeira parte de um total de cinco.


Embaraçava seus cabelos. Fazia-lhe cócegas em todo o corpo. Ela não sorria, mas sentia a pretensão do amigo invisível. Sabia porém, que era em vão. Ele a distraia momentaneamente e fazia-lhe pequenos favores,mas ela só precisava de uma coisa...

__ Atrasado?
__ Estava quase desistindo!
__ Você é maluquinha, sabia?
Ela desceu o muro, baixou os braços.
__ Só porque gosto de ouvir e sentir o vento?
__ Pensei que tivesse medo de altura.
__ O medo é insegurança. O vento é meu amigo. É uma pena...
__ Pena ?
__ Ele sempre está aqui comigo, mas eu nem sempre estou com ele. Meu pobre amigo, como gostaria que tudo isso fosse diferente. Queria também sentir os seus cabelos, abraçá-lo e dizer coisas bonitas quando ele chorar. Por que ele chora? Será que todos os seres deste planeta lamentam-se aos seus ouvidos? Como a dona de casa ousa xingá-lo quando ele espalha as folhas secas no quintal, ou quando lança suas roupas no chão? Ele é tão só! Pobrezinho, já não existem tantos seres abandonados e ignorados? Ele é tão essencial!
__ Calma!_ o homem sorria divertido.
__ E as árvores, fracotes! Deixam-se quebrar, e ele passa por malvado! Ele só quer companhia. É tão triste ser só! O fato de ser invisível não significa que não sente. Se traz vida, é por que tem vida. Deus vive e fez o homem viver, estou errada? Então esse é o amor ao próximo? Ele nunca me abandonou: se estava feliz ele fazia algazarra, se chorava, fazia de tudo para acalentar-me. Como um ser pode ser tão companheiro e ao mesmo tempo tão esquecido? Eu estou aqui!!
__ Hei, hei! Acalme-se! Vão pensar que está louca!
__ Eles o machucam. Veja, homens fumando, faça-os parar!
__ Eu não posso.
__ Você é um fraco!
__ Ama-o mais que a mim?
A mulher olhou-o e viu as crespas ondulações de suas madeixas refletidas no seu olhar. Ela mirou-se naquele verde mar e viu uma silhueta envolvendo-a, triste e feliz. E passou tempo... Até que sentiu mãos fortes segurando-a. O homem a beijou e o vento parou.
As folhas das árvores moveram-se e produziram uma bela melodia. A mulher entendera a mensagem.
É hora de cada um procurar seu canto.
“Ela é louca, não é? Devia ser uma planta no alto de uma montanha ou a cipreste nos campos. O trigo, o arroz, a cevada, algo maleável, que fosse pra lá, pra cá e dançasse esvoaçante, produzindo sua própria melodia, exalando sal verde essência. Ela deveria ser algo assim. E eu, eu deveria ser você! Do tamanho do mundo. Está aqui e ali, em todo lugar. Queria ter a tua liberdade. Bagunçar cabelos, levantar saias_ sorri_ e ser até nome de livro famoso, já imaginou? Seria muito bom! Eu moveria com toda força moinhos e investiria contra mil Dons Quixotes maluquetes. Sopraria barcos e caravelas. Desviaria o Titanic do ace barg e hoje diriam:_Titanic, nem Deus o afundou graças a... e esse... tão essencial à vida! Senhor dos mares. A pior parte da tempestade. Quem moveria as ondas durante um maremoto? Nos filmes de terror eu silvaria e meu som penetraria nos ossos dos expectadores. E abraçá-la-ia, ele me abriria seus braços e eu desvendaria todos os seus mistérios e ela me diria:_ me leva contigo às nuvens. E eu a levaria. Talvez pedisse para mostrar-lhe meu rosto, isso eu não faria não! Se ela não gostasse? O mistério é sedutor. Por que observamos o céu? A química, física, explica? Não, não se pode explicar o que não tem explicação.”
__ Hei, presta atenção...!!!

Tarde para acordar do deslumbramento . Tarde para partir o elo que o ligava no mundo dos sonhos. Esse mundo que as vezes salva e quase sempre condena.


Apenas uma pessoa que usa a literatura e o cinema para fugir desse mundo cão. Escrever é apenas um ato e exercício de liberdade!

 
Autor
Helayne
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