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DUVIDO (CONTINUAÇÃO) CAPÍTULO V

 
DESESPERO DE LADO A LADO


De volta ao Rio de Janeiro Ana, não encontra nenhum dos seus filhos em casa, o telefone de Cristina estava fora de área e isso a deixou assustada, liga rapidamente para o filho Gustavo. Ao atender ela pergunta: Guto está tudo bem, já cheguei ao Rio, cadê sua irmã? O rapaz diz que está num shoping preste a assistir uma sessão de cinema e que sua irmã fora acampar em Lumiar com amigos e retornaria no Domingo à tarde.

Ana reclama, dizendo que Cristina não comentou nada com ela nem telefonou avisando com quem iria e aonde iria, por isso, quando chegasse teria uma conversa com ela. Ana toma banho e deita-se para relaxar, mas, a ausência da filha estava a incomodando, pois já se passava das dezenove horas e o telefone de Cristina, continuava como tivesse desligado ou fora de área. Se ao menos soubesse com quem teria ido, talvez pudesse obter alguma notícia. Lembrou que Cristina, numa conversa lhe falou de um rapaz do curso de espanhol, mas que era segundo sua filha, apenas uma paquera.

Pensou em ligar para o ex-marido, quem sabe sua filha teria dito algo para ele, mas, achou melhor aguardar porque isso seria motivo para que ele a repreendesse, além de querer vir até sua casa para esperar a filha juntos. Ana se cala em si e fica a esperar.

Ás vinte e uma horas e quarenta minutos a campainha toca, Ana corre, era seu filho Guto voltando do cinema, vendo a mãe abalada, tenta lembrar o nome do rapaz com quem Cristina fora para Lumiar. É Roberto mãe, o nome do namorado dela. Sei que ele estuda no mesmo curso de espanhol que eu e Cristina estudamos. Ana pergunta se o filho não teria telefone de algum amigo ou mesmo professor do curso. Gustavo se lembrou do telefone de Madalena, uma de suas professoras e passou o telefone dela para sua mãe.

Ana liga imediatamente para o celular da professora, pede desculpas por incomodar, mas, a Cristina aluna dela, havia viajado para Lumiar com um amigo ou amigos do curso e que até aquele momento não havia chegado em casa a deixando aflita, pois, o telefone da filha só dava fora de área. Contou também que seu filho Gustavo estudante do mesmo curso, lhe informou que o rapaz que veio buscá-la em casa foi o Roberto, estudante da mesma sala do curso de espanhol.

A professora comenta ter ouvido no colégio que um grupo de amigos iria naquele final de semana, acampar em Lumiar e que se ela esperasse uns minutos tentaria ligar para a mãe do rapaz, a saber, alguma noticia.

Já se passava das vinte duas horas o telefone de Ana toca, era a professora de Cristina, disse ter falado com a mãe do rapaz e que ela lhe informou, ter ocorrido um acidente na serra quando voltavam de Lumiar, envolvendo o carro onde estavam Cristina mais dois amigos, um deles o Roberto namorado da Cristina e que todos teriam sido transportados para o Hospital de Friburgo. A mãe do Roberto pediu que a senhora fosse até lá. Ana agradece imediatamente pega o filho e parte para Friburgo. Ainda no caminho, liga para Marcelo, relatando o acontecido, ele tenta acalmá-la em vão, Ana se mostrava muito abalada. Logo a seguir Ana liga ao ex-marido contando para ele o fato e pede que se possível, encontrasse com ela e o filho no Hospital de Friburgo.

No hospital, o irmão de Cristina, reconhece a mãe de Roberto, a senhora chorava muito, quando Gustavo a interrompeu querendo saber da irmã, a senhora levantou-se dizendo que o carro aonde ia os dois e mais um amigo, havia se desgovernado na serra caindo num precipício segundo os Bombeiros de mais de trinta metros. O filho e o amigo que viajavam na frente do carro, chegaram muito mal e estavam no CTI daquele hospital e sua irmã que viajava no banco de trás, não usava o cinto de segurança e por isso, fora lançada para longe do carro e infelizmente não resistiu aos traumas, falecendo logo que dera entrada no Hospital.

Gustavo se desespera, Ana corre em direção do filho, percebe que algo de muito grave havia acontecido. Gustavo se abraça com a mãe e sem conseguir falar direito lhe dá a notícia: Cristina morreu mamãe. Ana se descontrola e grita! Eu quero ver minha filha agora. Nervosa, Ana grita com a mãe de Roberto, queria saber tudo ao mesmo tempo, aonde foi como foi e porque foi. A senhora abraça-se com Ana e Gustavo e põem-se a chorar os três.

Por volta de uma hora da madrugada chega o pai de Cristina. Ana corre abraça-se com ele gritando minha filha morreu, nossa filha foi embora. O ex-marido abraça-se com Ana e ficam os dois ali chorando por uns minutos. Se recompondo o ex-marido, quis saber detalhes do que havia acontecido. Ana conta que um acidente de estrada na serra de Lumiar e que sua filha não havia lhe comunicado que iria a esse acampamento.

Mas, como você não sabia? Ana conta que fora viajar para São Paulo e deixou os dois filhos em casa, nenhum deles comentou com que ia sair e que Cristina, ao menos telefonou para ela avisando desse passeio. O ex-marido nem comentou nada, foi procurar a direção do hospital, queria ver sua filha e acompanhar os trâmites legais, pois, Cristina teria sido encaminhada ao IML, uma vez que sua morte acontecera decorrente de um acidente no trânsito.

Ana permanece no Hospital com o filho, tentando saber os detalhes. Às seis horas e dez minutos a mãe de Roberto se aproxima de Ana para informa-lhe que o rapaz que estava no banco do carona, havia falecido e abraça-se com Ana numa mistura de consolar e pedir ajuda ao mesmo tempo, pois, seu filho estava entre a vida e a morte. Apesar de toda dor, Ana consegue perceber a dor da mãe de Roberto e diz, vamos até a capela do hospital rezar para nossos filhos.

O pai de Cristina consegue liberar o corpo de sua filha ainda no mesmo dia na segunda feira à tarde e no mesmo dia ainda, transporta o corpo da filha para a cidade do Rio de Janeiro. Terça feira ás dez horas, Cristina fora enterrada na presença de seus pais, irmão, amigos da faculdade e praticamente todos os colegas do curso de espanhol.

Ao contrário que esperava Ana, o ex-marido não fez para ela, nenhum comentário recriminador, tentou conformá-la dizendo ainda lá no cemitério que Deus sabe o que faz e se aquilo aconteceu é porque teria de ter algum sentido.

Sentido que ele ainda não percebera, mas, com certeza havia. Ana junta sua dor com a dor do ex-marido e do seu filho. Retornam para casa, com seu ex-marido ficando por lá, até bem tarde.

Naquela noite, Ana não conseguiu dormir, ficou na cama lembrando-se de sua filha, das coisas que fizeram juntas, passando por sua mente, as lembranças de Cristina ainda bebe. Foi ao quarto do filho que estava também acordado, conversaram e choraram juntos, lembrando de Cristina.

Ana sente-se culpada, entendeu que se não tivesse viajado, provavelmente sua filha não teria ido ao tal acampamento. Os dias se passaram arrastados com Ana sem motivação para nada. A sensação de culpa, fez com que ela se afastasse de todos, inclusive do Marcelo. Gustavo junto ao pai, percebendo a depressão que se instalara em sua mãe, tenta animá-la convidando-a para um cinema.

Depois de insistirem muito, Ana aceita o convite. Veem o filme e saem os três para jantar. Ana pede desculpas ao marido e filho pela ausência, chora, diz estar arrependida de ter ido viajar. O ex-marido e o filho conversam, tentam fazê-la entender que acidentes acontecem a todo instante, infelizmente a filha deles, fora apenas mais um de uma estatística desastrosa. Diz para a ex-esposa que todos estavam sentindo a falta de Cristina, mas, nesse caso não via nenhum culpado.

Marcelo dá para Ana, o tempo necessário para que se refaça daquela tragédia, depois de uma semana liga para ela. Não vou perguntar como você está, porque sei como se sente, mas, queria saber da gente. Sinto você distante, como se tivesse se culpando e me culpando também do ocorrido.

Ana apenas comenta que não está em condições de conversar sobre o assunto, ainda não havia feito algum conceito daquilo tudo. Marcelo diz entendê-la e que quando se sentisse mais forte, mais segura o telefonasse. Mas que isso, não demorasse, pois, era para ele muito ruim ficar sem notícias dela e despede-se de Ana.

Vinte dias depois, o novo consultório de Ana é inaugurado, mas, nem mesmo isso, trouxe para ela alguma alegria. Não houve alguma recepção, Ana limitou-se a pedir para sua secretária que ligasse a todos os clientes avisando a mudança de endereço e que fizesse para eles o convite para conhecerem as novas instalações.

Mesmo credenciada em três convênios, Ana não ficara satisfeita com a frequência no mês de inauguração, imaginou a principio que as coisas fossem se equilibrar no decorrer dos meses, mas, depois de passado seis meses, o consultório, ainda não estava percebendo quantia necessária para gerir a si próprio e por consequência a sua própria vida.

Por conta de tudo Ana, encontrava-se desanimada, deprimida, pouco falava com seu namorado, mas naquele dia, disse para ele que precisava encontrá-lo. Marcelo queria retornar a Penedo e de lá, partirem para Visconde de Mauá, aquela cidade meio as montanhas e de onde ouvira falar na lenda dos tesouros e brincou com Ana. Carnaval ta aí vai que de repente a gente namorando pelas trilhas, ache algum ouro por lá!

De modo ocupar a cabeça de Ana, o namorado pede que ligue pra uma ou duas pousadas em Penedo e em Visconde de Mauá e assim ela o fez. Dois dias depois Ana, liga para Marcelo relata que havia encontrado uma pousada em Visconde de Mauá, mas a diária, achava muito cara além do mais, a pousada ficava meio a floresta teriam de deixar o carro em Visconde de Mauá e seguirem de cavalos para tal pousada.

Marcelo adorou tudo aquilo, principalmente o seguir de cavalos, isso dava para ele, a ideia da rusticidade do local, além de que a possibilidade de oferecer para Ana, o terceiro desejo dos dois (andar a cavalo juntos). Ele mais que depressa, pergunta para ela, qual o valor da diária?

Ana explica que como era carnaval, só estavam fechando o pacote de sexta à tarde até quarta ao meio dia, por mil e oitocentos reais o casal, com café, almoço e jantar incluso. É realmente caro, mas eu quero estar com você no carnaval e você está por demais necessitando de descansar assim, vê como podemos fazer a reserva que eu deposito o montante da reserva por aqui em São Paulo.

Uma semana depois no MSN, em conversa com o namorado, Ana diz que no seu consultório comentando com uma cliente que iria passar o carnaval em Mauá, ela teria lhe dito que fora para a mesma cidade carnaval passado e que na ocasião fora de Micro-ônibus, ficou de passar para ela o telefone do Sr. Maurício que organizava o transporte e se ele preferisse assim, poderia vir para o Rio de ônibus ou avião, se bem que sabia que apesar de adorar avião (RSRSR) ele viria mesmo de ônibus. Marcelo riu, gostou de ver Ana esboçar alguma vontade de brincar e disse: É vou de ônibus, veja e contrate esse micro-ônibus, por favor.

Marcelo se aproveita do seu hobby (PESCARIA) para comentar em sua casa, que o clube de pesca da cidade, no qual era sócio, ia promover durante o carnaval, um festival de pesca marinha no Rio de Janeiro. Dois dos seus companheiros de pesca havia o convidado para tal evento e que ele estava pensando em aceitar, pois estava mesmo precisando descansar um pouco. Sua esposa disse tudo bem, eu vou para casa da minha mãe em Santos e o seu filho ou vai comigo, com você ou passa o carnaval com a mãe.

Marcelo liga noutro dia para ex-mulher indaga se o Felipe poderia passar o carnaval com ela, pois ia pra um festival de pesca onde não poderia levá-lo. A ex-esposa diz que não sairia de casa no carnaval e gostaria sim, que o filho ficasse com ela, assim Marcelo, telefona para Ana para dizer que estava tudo acertado em São Paulo, para ele ir para Mauá.

Três de fevereiro de 2005, as vinte três horas e 10 minutos de quinta feira, viaja para o Rio de Janeiro Marcelo. Naquela noite o casal se falou por telefone muitas vezes. Ana contava que estava com saudade e apesar de toda dor e a decepção com seu novo consultório, se comportara ainda do mesmo jeito que das outras vezes, ansiosa e coração acelerado.

Por volta das três horas Marcelo diz que, seria bom que ela dormisse um pouco e ele também procuraria fazer o mesmo. Pela manhã Ana pega o namorado na rodoviária, comenta que o micro-ônibus do Senhor Maurício passará em sua casa por volta das dez horas e que havia preparado um café da manha daqueles em sua casa só para os dois. Marcelo pergunta pelo Guto e se isso não o incomodaria.

Ana explica que seu filho fora passar o carnaval em Búzios com a namorada. Assim, Marcelo conhece a casa de Ana e por lá, tomam um café da manha especial, conversam um pouco sobre tudo e terminam por transar duas vezes no tapete da sala. Ana diz que daquele dia em diante não queria usar com ele nenhum tipo de preservativo, confiava nele e que ele sabia também que só fazia sexo com o marido, assim mesmo no tempo que ele ainda tinha vontades para fazê-lo.

Marcelo fica surpreso, principalmente por ser médica e não se importar em desfazer-se da segurança que os preservativos promovem. Indaga também dos perigos de uma gravidez, Ana ri e diz que usa DIU, por mais de seis anos, que ele parasse de se preocupar.

Já se passava das nove horas e quarenta minutos, Ana fecha toda a casa, o gás de cozinha, retira as tomadas dos aparelhos elétricos, fecha a porta e no corredor esperando o elevador grita. Mauá, aí vamos nós!

Por volta das quinze horas chega a Mauá o micro-ônibus que levava o casal, fazem um lanche rápido na pequenina cidade, pois teriam de pegar os cavalos às dezesseis horas e com eles, caminharem mata adentro por mais uma hora até a pousada reservada por eles e mais dois casais que seguiam junto ao guia. Ana toda desengonçada a subir no cavalo. Para ela, Marcelo procurou um animal bem dócil.

Tudo era tão lindo, a vegetação, o cheiro dos eucaliptos, a trilha, de vez em quando, Marcelo olhava para trás e tirava uma foto de sua namorada. A diante o guia pede que parem para mostrar meio a mata uma cachoeira fantástica ali, Marcelo pega uma flor lilás e prende nos cabelos dourados de Ana, ela sorri, agradece e beija o namorado.

Marcelo se sentiu o próprio Indiana Jones, quando avançando um pouco mais na trilha, quase já chegando a Maringá, encontrou uma caverna. Disse o guia que, a caverna era usada no pernoite dos Bandeirantes e caçadores que por ali passavam. Marcelo fez questão de descer do cavalo e ir até o interior da caverna para sentir a emoção de viajar em pensamento para aquela época em que os Bandeirantes por ali passaram.

Logo a seguir avistam o Rio Preto que faz divisa de Mauá com o Estado das Minas Gerais e com mais quinze minutos chegam à pousada encravada na mata, por volta das dezessete horas e trinta minutos. Haviam andado cerca de sete quilômetros no lombo do cavalo, tanto Ana quanto Marcelo, estava que não se aguentavam, com dores em todo corpo. Isso é só o começo namorada, depois a
gente acostuma disse Marcelo e os dois riram das suas próprias desgraças.

Sábado logo bem cedo como era de costume, Ana acorda o namorado com tudo ainda no escuro, dá um beijo daqueles e parte com tudo pra cima dele. Marcelo adorava aquilo, tanto que nem se incomodava, muito pelo contrário e começavam os dias assim, sempre muito bem amados, sempre muito bem humorados. O dia amanheceu bem frio, o café da manhã com ovos quentes, crepes, pães e frios aquecidos numa enorme chapa, davam ao alimento um sabor inigualável.

A pousada mantinha um guia para aqueles que quisessem se aventurar nas trilhas das montanhas e isso era tudo que Marcelo queria assim, por volta das sete horas e trinta minutos, partem para Maromba um lugarejo cerca de três quilômetros de Maringá.

Pelas trilhas, ouviam os cantos dos pássaros, sentiam o frio das montanhas no rosto, o barulho das águas e as sementes que alguns macacos pregos brincalhões, jogavam ao ver algum estranho passar.
Marcelo ouvia atentamente as histórias que o guia lhes contavam, Caminharam por mais um bom tempo e chegaram a Maromba, por lá existiam as cachoeiras mais lindas que viram em suas vidas.

As cachoeiras formavam piscinas naturais com Marcelo dizendo para Ana, se existe um paraíso a entrada para ele é Aqui. Eram tantas as belezas que nem os olhos mais privilegiados poderiam vê-las todas. Com aquilo tudo em sua frente Ana abraça-se a Marcelo e chora. Um choro de alegria, tristeza, um choro de agradecimento ao mesmo tempo em que de indagação.

Marcelo diz que eles são mesmo abençoados por poder estar naquele lugar, um santuário da natureza. E naquele momento completam tudo aquilo que haviam combinado a pescaria, a dança, os cavalos e o banho de cachoeira com Marcelo e Ana se atirando de corpo e alma nas águas geladas que vinham das montanhas.

Atravessam a ponte de madeira e em Santa Clara, visitam a cachoeira da Toca da Raposa outra obra prima do Divino. Estavam feitos crianças sem saber para onde olhar, sem saber para onde ir, tantas que eram as belezas do lugar. E foi justamente neste Paraíso que Ana fez com que Marcelo, vivesse o seu pior inferno.

Depois de vários mergulhos pelas piscinas naturais da floresta, o casal encontra um bar com cerveja gelada e petiscos tentadores. Era carnaval, em todo canto havia pessoas e mesmo ali, não fora diferente, muitas pessoas, muitos jovens.

No bar sentam-se a mesa a saborear a cerveja. Marcelo ao se levantar dirige seu olhar para porta do bar, pois estavam chegando um grupo de pessoas. Uma jovem daquele grupo olha para ele e sorri, acompanhando o olhar de Marcelo, estava Ana que se descontrola, fazendo daquilo, o momento mais constrangedor da vida de Marcelo.

Ela simplesmente segura uma cadeira e com força de gigante, passa a cadeira por cima da sua própria cabeça, a posicionando de modo que em voz alta, quase gritando, pedir que Marcelo sentasse ali, para poder melhor paquerar a moça. Ana parecia mesmo estar transtornada e, tudo acontecera tão rápido, tudo tão de repente e tão sem propósito.

Não satisfeita, Ana se levanta segura fortemente o rosto do namorado e lhe diz: Pode arrumar suas coisas porque eu não fico mais um minuto com você aqui. Marcelo chegou a rir, não acreditava naquilo como verdade, mas infelizmente, tudo aquilo era verdadeiro e real. Tentou explicar que ele não teve intenção alguma, tudo não passou de uma coincidência infeliz dele e a moça se olhar num mesmo tempo e pediu, por favor, não deixe que uma bobagem descabida, estrague nosso encontro. Ana continuava dizendo que ia embora, que nem sabia como faria isso, mas que iria embora sim.

No almoço sentam a mesa com ela dizendo vou almoçar e vê alguém que me leve até Visconde de Mauá. Marcelo chora de indignação, ao mesmo tempo sente-se injustiçado e lembra-se de outras brigas de palavras que lhe feriram como ferro em brasa e chora mais ainda calado, engolindo com a comida o seu desgosto. Assim mesmo, diz tudo bem, então vamos embora, vou procurar algum guia para nos levar até Visconde de Mauá.

Depois do almoço, Ana parecia menos enfurecida, disse que queria caminhar e foram caminhando, com ela até brincando um pouco. À tardinha pede que a leve no bar da pousada, queria um refrigerante. Chegando por lá, pede uma cerveja e fica o casal por ali, com uma cerveja gelada meio a poucas palavras.

Ana sorrindo lembra para o Marcelo do desejo que ele tinha de tirar fotos dos pássaros que todas as tardes se instalavam nas árvores ao redor da pousada. Vai lá, pode ir que vou ficar bem, depois você me encontra aqui. Assim fez Marcelo, tirou muitas fotos. Os pássaros eram muitos, alguns de rara beleza. Anoitecendo Marcelo retorna ao encontro de Ana, mas, ela já não se encontrava por lá. Preocupado pergunta para a atendente do bar, a moça diz que Ana havia saído fazia uns quinze minutos e que estava alegre, havia bebido algumas cervejas e várias taças de vinho.

Marcelo começa a procurá-la nas redondezas da pousada, um dos funcionários diz ter visto Ana, caminhando para o chalé. Marcelo se apressa imaginando como, as chaves ficaram comigo, quando chega encontra Ana caída na varanda. Corre e tenta acordá-la sem êxito, abre o chalé, coloca a namorada para dentro, com ela tentando esboçar uma e outra palavra: Estou muito mal Marcelo, e estava mesmo, não conseguia suportar seu próprio corpo. Por vez e outra dizia com a língua enrolada, quero embora, me leva embora.

Marcelo se deu conta, que naquele lugar não havia médico nem mesmo algum ambulatório que pudesse medicar Ana, percebeu que ela se encontrava num estado perto do coma alcoólico e que não via o que poderia fazer se ela piorasse. Todas as coisas de ruim passaram por sua mente. Tentou dar um banho em sua namorada sem nenhum sucesso, pois, ela estava quase que inconsciente, mexia com ela a todo instante tentando reanimá-la, tudo em vão.

Muito tempo depois Ana diz querer levantar-se, o namorado ajuda e num vômito, ela expulsa grande parte do vinho que havia ingerido, para logo depois voltar a dormir. Marcelo passa a noite acordado rezando para que ela melhorasse, rezando para que o dia logo chegasse.

Ao amanhecer quando percebeu que Ana estava melhor fechou os olhos para descansar daquela noite em claro. Ana como de costume o acorda com um beijo, querendo com ele fazer sexo, como se nada tivesse acontecido.

Ainda era segunda feira de carnaval, Ana o convence que nada mais, ia impedir que eles fossem felizes, Marcelo imaginou que se fosse embora naquele dia, chegaria em casa antes do combinado e isso poderia de alguma forma, trazer dúvidas sobre o tal festival de pesca assim, resolveu ficar tentando passar aqueles outros dois dias da melhor maneira que o temperamento de Ana, pudesse deixar.

Quarta feira retornam ao Rio de Janeiro, Marcelo embarcaria para São Paulo as vinte e três horas. Antes de embarcar, olha nos olhos de Ana para dizer-lhe que o relacionamento dos dois terminava a partir daquele momento e entrou no ônibus com Ana chorando e dizendo:
Marcelo, eu te amo!

Belezas de Mauá.
http://www.viscondedemaua.com.br/cachoeiras_2.html

 
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PCoelho
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