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Carta de Despedida

 
O tempo é de balanço. Não de recriminações, nem tão pouco de assimilar culpas ou desaires.
O tempo é unicamente de reflexão. Há quanto tempo o não fazíamos?
Neste dia ensolarado onde as sombras se infiltram pelas brechas da nossa alma, o melhor caminho é sentarmo-nos no chão, absorver o ar envolvente como se estivéssemos com falta de ar. Ouvir de seguida os pássaros que se desinteressaram dos horrores quotidianos, porque o destino deles se cumpre no preciso momento em que chilreiam para nos encantar.
Experimenta essa paz aqui ao meu lado. Sentes? Respiras esta fantástica sensação de liberdade?
Descomprimamos as palavras e codifiquemos a naturalidade abstracta com que tudo acontece nas nossas vidas. Nada é por acaso… dizem.
E não é, de facto!
Talvez por isso, neste momento… o coração se adense neste remanso agitado, de peregrino sem fé. Mas não desiste. Teimosamente segue ainda o compasso das suas batidas, como uma andorinha perdida que não desiste de procurar o seu ninho. Repara, ouves?…
Apercebes-te como ainda bate? Como se emociona quando nos atrevemos a olhar nos olhos?
O amor lá está, debruçado entre os próprios joelhos em sinal de abandono e lamento, mas espera-nos!
É perceptível ainda os gritos que nos lança em silêncios de vidro, nos gestos. Sente-se as angústias que se filtram com as lágrimas derramadas, mas o amor lá está… à nossa espera, sim! É uma questão de sabermos ouvir…
A jangada de paus, onde tu eu temos andado numa aventura de prisioneiros do sonho, acaba de sofrer um rombo colossal. Abanou mas não afundou. Cabe-nos então a tarefa de recomeçar a reconstruir o que ficou danificado.
Os ramos de alecrim que pusemos juntos aos lirios no topo da jangada, ainda irradiam o seu perfume suave e embandeiram os nossos mais belos ideais.
O amor verdadeiro é isso… sabias?
As tempestades varrem muitas vezes as praias, como se um maremoto se agigantasse à nossa frente para nos mostrar a pequenez do que somos, mas logo depois vem a luz da aurora devolver-nos a esperança, como se nos atravessasse o coração através dos olhos do anjo que nos guarda.
Por mais que alguns tubarões esfaimados tentem beliscar as algas que nos servem de manto verde onde repousamos as esperanças e os velhos sonhos, cabe-nos a nós remar com as próprias mãos no mar infinito dos nossos ideais cujo pôr-do-sol nos indica o infinito…!

(VÓNY FERREIRA)


texto incluído no meu romance
O DESPERTAR DA MARIPOSA/editora: Temas Originais



visite o meu blog aqui...http://vonyferreira.blogspot.pt/
Vóny Ferreira

 
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VónyFerreira
 
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 02/08/2009 18:41  Atualizado: 02/08/2009 18:41
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 Re: CARTA DE DESPEDIDA
quantas vezes caímos e nos sentimos sem força para nos levantarmos novamente?que este texto sirva de mão que nos convida a um re-erguer corajoso!adorei ler-te.beijo,vony.


Enviado por Tópico
Maria Verde
Publicado: 02/08/2009 20:11  Atualizado: 02/08/2009 20:11
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 Re: CARTA DE DESPEDIDA
"É uma questão de sabermos ouvir…"
Acrescento: saber ouvir o outro sem ruidos.
Gostei muito Vóny, assim como da carta anterior. Muito sentimento há aí.
beijo.

Enviado por Tópico
Betha Mendonça
Publicado: 02/08/2009 20:54  Atualizado: 02/08/2009 20:54
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 Re: CARTA DE DESPEDIDA
Vóny,
Não percebo no texto despedida.Sinto-o como desabafo.Conversa intimista de quem aconselha a si própria a ter otimismo e continuar forte acima dos reveses cotidianos.Muito bonito e forte o texto! :)
Bjins, Betha.

Enviado por Tópico
poesiadeneno
Publicado: 02/08/2009 21:27  Atualizado: 02/08/2009 21:27
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 Re: CARTA DE DESPEDIDA
Vóny Ferreira,


Como disse o filósofo"Tudo o que não mata,torna-nos mais fortes",penso ver no seu texto a essência deste pensamento.
Esta sua forma positiva de encarar a vida, é fundamental para uma eficaz convivência humana.


Beijos


Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 02/08/2009 21:33  Atualizado: 02/08/2009 21:33
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 Re: CARTA DE DESPEDIDA
Voninha,
A foto é lindíssima, uma doçura.
Uma carta de esperança, de renascimento, escrita pela mão de um enorme talento.
Beijinhos na alma
Nanda


Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 02/08/2009 22:28  Atualizado: 02/08/2009 22:28
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 Re: CARTA DE DESPEDIDA
Uma carta numa despedida com esperança de renascimento, envolvente e madura numa escrita criativa e fluida, gostei muito.

Beijos

Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 02/08/2009 22:51  Atualizado: 02/08/2009 22:51
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 Re: CARTA DE DESPEDIDA
Vóny,

Esta carta de despedida está plena de esperança...
É o deitar hoje, à noite, para acordar pela manhã e recomeçar com mais vigor.
Muito bem!...

Beijinho


Enviado por Tópico
(re)velata
Publicado: 02/08/2009 23:34  Atualizado: 02/08/2009 23:34
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 Re: CARTA DE DESPEDIDA
É uma carta de despedida... das tempestades e dos maremotos e um "olá" ao recomeço. Prendeu-me a leitura deste teu texto.

Um beijinho, Vóny

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/08/2009 23:43  Atualizado: 02/08/2009 23:43
 Re: CARTA DE DESPEDIDA
Confesso que me assustei! Mas depois fui me apercebendo que já conhecia este texto magnifico.

A vida dá-nos lições amiga! Este texto é a prova de que se pode renascer quando se pensa estar tudo perdido.

Grandioso!

Beijo azul


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/08/2009 01:43  Atualizado: 03/08/2009 01:43
 Re: CARTA DE DESPEDIDA
Vóny.

"onde as sombras se inflitram pelass brechas da alma"
"o amor lá está, debruçado entre os próprios joelhos em sinal de abanadono e lamento, mas a espera-nos!"

Já li muito do que escreve, mas este poema é maravilhoso, seja ficção ou verdade.

Vou enviá-lo para vários amigos meus.

Meus parabéns

Ulysses


Enviado por Tópico
Vergílio
Publicado: 03/08/2009 12:12  Atualizado: 03/08/2009 12:12
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 Re: CARTA DE DESPEDIDA
Sabe que de início não percebi bem esta carta.
Um belo texto que nos faz pensar.
O balanço, o diálogo aparentemente fácil e tão difícil.
Beijo