Poemas : 

CANÇÃO SEM TEMPO

 
para o Mario Quintana, com saudade.


no porão da casa velha da rua condessa de são joaquim
ouço tosses... tosses...
lembrança da avó?
prenúncio de tuberculose?

espio o baú adormecido faz tempo
a torneira enferrujada volta a respirar no tanque
solta um gemido de água morna

no porão da casa velha
um silêncio comprido pede uma prece
a negra velha como a casa aparece com sua boca desdentada
olha para mim e se ri
pergunto-lhe o motivo da graça
ela dá uma cusparada de fumo mascado e responde:

- Ué, sêo poeta, o senhor não ouviu não?!
São as criancinhas mortas querendo brincar com o Menino Jesus de Praga...

______________

júlio


Júlio Saraiva

 
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Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
Maria Verde
Publicado: 15/08/2009 21:33  Atualizado: 15/08/2009 21:34
Colaborador
Usuário desde: 20/01/2008
Localidade: SP
Mensagens: 3489
 Re: CANÇÃO SEM TEMPO
Que maravilha poeta! fico muito feliz quando encontro uma poesia "grande", onde percebo fundamento, conhecimento poético e literário alicersado. destaco estes versos brilhantes, pelo olhar e o sentido atribuído "as coisas":

"espio o baú adormecido faz tempo
a torneira enferrujada volta a respirar no tanque
solta um gemido de água morna."

Maria verde



Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/08/2009 13:51  Atualizado: 16/08/2009 13:51
 Re: CANÇÃO SEM TEMPO
olá júlio,
ainda existem sim infelizmente milhões de criancinhas mortes à espera da piedade de alguém...quando teremos um mundo melhor? será que algum dia o iremos ter?
não creio.

bj

c.