Prosas Poéticas : 

Ginasta de dor

 
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Ginasta de dor
 
O seu rosto contorce-se como um ginasta, dez pontos de pura dor, perfeito esmagamento emocional, absoluta escuridão d'alma rasgando o ser com a velocidade de um relâmpago, num coração de papel, esta dor é chama que consome até as cinzas, a mulher é um cartucho de pólvora detonada, eu sou agora um pacote de alma vazia, sinto-me esmagado pelo sentimento expresso no rosto desta mulher, como se o seu peito tivesse sido furado por uma bala de canhão e lá se encontrasse agora somente um buraco vazio, a dor que sinto em mim é apenas a presença do mesmo vazio naquilo que outrora havia sido o meu coração, sou praia sugada por onda gigante, em tempos luminosa sob a luz do sol, hoje sou terra escura no fundo do mar. Ela chora durante duas horas, eu vejo-a chorar durante duas horas, pergunta-me porque não choro, eu digo-lhe Já chorei tudo o que houve alguma vez neste mundo para chorar, o meu ser está enxuto como apenas um pão numa despensa esquecida o está, sou nuvem que choveu já tudo o que era e dessa forma desapareceu, o que vês em mim é uma gaveta vazia, é uma moldura sem quadro, a alma caiu-me há muito das mãos, o que vês e abraças e sentes entre dedos é um desenho feito de pele, do lado de dentro já não existo, do lado de fora nunca existi, o não-ser que sou agora é mero limiar entre mundos, é marca de água num copo seco, recordação somente do que era, este corpo que vês diante de ti é uma mera certidão do que fui, algo que, existindo, existe apenas como prova de algo que deixou de existir.


Não precisas de responder às tuas questões. Precisas é de questionar as tuas respostas.

 
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Andraz
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