SONETO DE ADEUS AO SONETO

caro companheiro arfemo, o poeta que sabe economizar palavras com mestria - isto sim é inovar, diga-se de passagem.
não,meu amigo, vou namorar emengardas e teresas. não vou abandonar, como disse à nossa (re)velata, os catorze versos. vou sempre, sim, dar a eles uma roupa mais atual, sem bilacquianismos ou florbelaespanquismos, porque isso é muito chato. as formas clássicas não devem nunca ser desprezadas, quando a poesia as pede. mas também vamos apagar delas palavras horrorosas,como ebúrnea, funérea, charneca (que me lembra outra coisa) e etc.que o soneto saia dos saraus caretíssimos e bem-comportados e caia no rock-and-roll. garanto que ele vai gostar.

um abraço e obrigado por palavras tão carinhosas.

j.

prezada poeta,

não, não vou abandonar o soneto. vou sempre, sim, procurar fazê-lo numa linguagem atual - sem formalidades. tratá-lo bem, mas sem o velho ranço parnasiano. é o que tento fazer, toda vez que entro no labirinto dos catorze versos.

carinho,

j.

maria joão (prefiro chamá-la assim, porque acho seu nome lindo):
mas eu também tenho uma relação de amor & ódio com os sonetos. principalmente porque exigem disciplina - e o que menos sou é disciplinado (quem quer disciplina que vá ser militar). a disciplina poetica deve, em alguns casos, ser acatada, mas com moderação, de modo a não torná-la uma coisa careta & chata. se arrancarmos o soneto dos horrorosos saraus familiares & o levarmos para dançar o rock-and-roll, tenho certeza que ele volta a ser menino. as formas clássicas não devem ser desprezadas, mas atualizadas. ainda bem que a língua evolui. como você, penso também que dos xaroposos poemas de amor (e o soneto é um risco no caso), livre-nos deus & o demônio também. olhe aqui, maria joão, saiba que eu gosto demais da sua poesia. e garanto que, se você quiser, pode muito bem fazer um ou vários sonetos. mas pode também continuar a namorar os meus - que eu vou gostar e muito.

carinho,

j.

cara poeta (a palavra poetisa é horrorosa, lembra moça bem-comportada),

os sonetos são antigos, não antiquados. basta arrancá-los dos caretíssimos saraus literários e substituir o fraque pelo jeans. basta não rimar amor com dor. arrancar-lhe da mão o copo de absinto e apagar-lhe da memória as amadas suicidas que viam luares desmaiados na janela. substituindo a modinha comportada dos salões pelo rock-and-roll você então, minha cara poeta, verá como ele fica novo. ainda bem que o tempo, para a poesia, não existe. a forma e a língua, no entanto, evoluem. apaguemos do soneto palavras como ebúrneo, charneca, funesta e etc. ele ficará menino, garanto.

um beijo,

j.

Conceição,

prometo que o adeus ao soneto ficará somente no soneto.

carinho,

j.

amigo rogério,

só agora me dei conta do seu comentário, desculpe. pois soneto é isto mesmo - como aquele cão vadio, que a gente não quer mais em casa. a gente enxota, não demora, ele volta, cara lambida e rabo entre as pernas. olhe, eu até me dou bem com o soneto - pena que aqui muita gente não o respeite. não sou purista, mas se é pra fazer, que cumpram as regras. tem gente aqui que precisa de gesso pra imobilizar o pé quebrado do soneto. fazer o quê?! bem, não desgosto do soneto, desde que não tenha a linguagem rançosa e esclerosada dos parnasianos e nem o excesso da melosidade de certos poemas de amor, que são intragáveis.

abrs,

j.