Poemas : 

O ar que me respira

 
Os gestos com que me teço em filamentos de ventos
são retalhos angulados dos teus a passos
pintados no tear dos meus sentidos.

Funis de esfuma saídos da bruma do alto mar
em cachos de uva repisados.
Fados antigos reinventados,
bebidos nos xailes negros traçados da taça de cicuta.

O ar que me respira
transpira a adrenalina do meu corpo
em gestos ébrios de saudade,
de febre e fogo, empapados no vinho mosto
em que me embriago, em que me ensopo,
e me escoo a ondular mutismos na estrada das madrugadas.

A loucura inscreve um epitáfio
na pedra das estrelas caídas das labirínticas palavras
inventadas no assassínio confesso
de um tempo
de silêncio,
de desalento,
em que as asas de um sonho migraram
sem corpo em rotas ácidas de teias rotas.
Nestas, em que enleada piso relva vítrea do destino, na incerteza,
num grito de rapina,
de um ave ferida, que se perdeu da rota da vida.
Um epitáfio de sangue e seiva líquida,
na voz da alma que por ti clama, por ti grita...

O ar que me respira
transforma em húmus a flor que floresceu rubra
no sentimento virgem de mulher.



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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Angela
Publicado: 17/06/2007 15:05  Atualizado: 17/06/2007 15:05
Colaborador
Usuário desde: 28/09/2006
Localidade: Caldas da Rainha
Mensagens: 567
 Re: O ar que me respira
Este poema é uma sucessão vertiginosa de originais metáforas! É simplesmente fantástico aquilo que fazes com as palavras Mel!

Adorei!

Um beijinho grande.